Nome do Estudo: VALUE

Referencia Bibliográfica: Lancet 2004; 363(9426):2022-31

Julius S, Kjeldsen SE, Weber M, Brunner HR, Ekman S, Hansson L, et al. Outcomes in hypertensive patients at high cardiovascular risk treated with regimens based on valsartan or amlodipine: the VALUE randomized trial.

Link para acesso a versão free do artigo na integra: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15207952

Objetivo: comparar se, com os mesmos níveis tensionais, o tratamento com um bloqueador do receptor da angiotensina (valsartana) reduz morbidade e mortalidade cardíaca mais do que um bloqueador do canal de cálcio (anlodipina) em pacientes hipertensos de alto risco cardiovascular.

Metodologia:
Um total de 15.245 pacientes com idade ≥ 50 anos, hipertensão arterial sistêmica (HAS) e pelo menos 1 outro fator de risco para doença cardiovascular (DCV) ou com diagnóstico de DCV participaram do estudo. Foram excluídos os pacientes que possuíam pelo menos um dos seguintes critérios: gravidez, estenose de artéria renal, IAM prévio, angioplastia ou cirurgia cardíaca ou AVC nos últimos 3 meses; assim como portadores de doenças valvar, hepática ou renal graves, insuficiência cardíaca (IC) com em uso de IECA e pacientes em monoterapia pra DAC e HAS. Os pacientes com HAS em tratamento tiveram suas medicações descontinuadas e, após 2 semanas, foram randomizados para o grupo da valsartana 80mg/dia ou para o grupo da anlodipino 5mg/dia; podendo haver aumento das doses em ambos os grupos a depender dos níveis pressóricos. Etapas posteriores incluíram hidroclorotiazida até dose diária de 25mg e, se ainda necessário, qualquer outro anti-hipertensivo, excetuando-se outro bloqueador de canal de cálcio ou bloqueador de receptor da angiotensina ou inibidor da enzima conversora da angiotensina (IECA). A Pressão arterial alvo era < 140x90mmHg.

Os desfechos primários foram: morte súbita, IAM fatal, morte devido à IC e morte associada com IAM recente, IC com necessidade de hospitalização, IAM não fatal ou necessidade de cateterismo cardíaco ou intervenção coronariana percutânea como prevenção de infarto.

Os desfechos secundários foram: IAM fatal e não fatal; IC fatal e não fatal; AVC fatal e não fatal; morte por qualquer causa; diabetes mellitus novo.

Os resultados:
A pressão arterial reduziu em ambos grupos, porém em maior proporção no grupo da anlodipina por todo o período do estudo (6 meses), principalmente nos primeiros 3 meses. Não houve diferença estatística entre os grupos em relação ao desfecho primário (morbidade e mortalidade cardiovasculares). Todavia, a ocorrência de infarto fatal e não fatal, bem como de AVC fatal e não fatal, foi mais prevalente no grupo que usou valsartana (369 versus 313; p = 0,02 e 322 versus 281; p = 0,08; respectivamente).

Após análise por período, observou-se uma maior significância estatística a favor do grupo “anlodipina” justamente no período que a pressão arterial diminuiu de maneira mais intensa (nos primeiros 3 meses). Houve ainda uma menor incidência de diabetes mellitus tipo 2 no grupo da valsartana (13,1% versus 16,4%. P < 0,0001)

Considerações Finais: A diferença entre os níveis pressóricos entre os grupos não permite fazer uma análise comparativa entre as drogas utilizadas (valsartana e anlodipina).

Contudo, após análise com 6 meses de seguimento, os indivíduos que atingiram PA <140/90mmHg, independente do fármaco utilizado, tiveram menor ocorrência de mortalidade e eventos cardiovasculares. Tal fato evidencia a importância de alcançar a meta de PA entre três e seis meses, principalmente no grupo de maior risco cardiovascular. Em relação a DM, houve uma menor incidência no grupo “valsartana”, corroborando estudos prévios.







Resumo redigido por Dr. Júlio César A. F. Filho
Cardiologista especialista pela SBC/AMB