NOTA DO DEPARTAMENTO DE HIPERTENSÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA

Indo de encontro às premissas de mantê-los sempre atualizados por meio de comunicação eletrônica de novidades no âmbito da hipertensão , envio este comunicado.

No dia 9 de janeiro, a empresa Medtronics anunciou um resultado parcial do estudo SIMPLICITY-HTN 3, que compara denervação renal por ablação utilizando o sistema próprio, com o procedimento sham, isto é, arteriografia sem intervenção, mantendo-se tratamento otimizado nos dois grupos. De acordo com um dos principais investigadores, Dr. Deepak Bhatt, do Brigham and Women's Hospital in Boston, não houve benefício do procedimento sobre o desfecho primário de controle da pressão arterial ( leia o desenho do estudo na íntegra) em 6 meses , após ser atingido o número de 500 pacientes, suficientes para demonstrar a segurança do procedimento. Apesar de não terem sido divulgados números e análises mais aprofundadas, os investigadores optaram por dividir este anúncio com a comunidade médica e os pacientes tão logo fosse possível. Segundo ele, a análise completa dos resultados deverá ser apresentada no próximo Congresso American College of Cardiology, em março deste ano, quando também deverá ser publicado. Cabe lembrar que este estudo foi uma exigência do FDA para liberar o procedimento para uso clínico nos EUA, visto que na Europa e Austrália o procedimento já estava sendo amplamente realizado. Os resultados preliminares dos estudos Simplicity HTN 1 e 2, além do estudo Enlight com outro dispositivo, em número menor de indivíduos, mostraram resultados bastante promissores, tanto no controle da pressão quanto em outros fenótipos analisados. A denervação por ablação tem embasamento fisiopatológico muito interessante, cujos resultados precisam ainda ser mais bem entendidos, e provavelmente tem benefícios para uma parcela da população hipertensa com hipertensão resistente verdadeira, ou mesmo para outros fenótipos como insuficiência cardíaca, como já demonstrado. Porém, quando um novo tipo de tratamento é proposto, envolvendo, sobretudo uma nova tecnologia intervencionista, deve ser visto com o maior senso crítico possível, sempre com coerência e embasamento científico. As Sociedades de Hipertensão e Cardiologia na Europa elaboraram posicionamentos para frear o uso indiscriminado da técnica, o que poderia causar prejuízo dos eventuais benefícios do tratamento indicados para a população correta. A posição do DHA deve ser a mais científica possível, pois este procedimento está sendo iniciado em alguns centros em nosso meio, a maioria seguindo todas as recomendações da literatura (sobretudo as Européias) e por protocolos científicos. No entanto, alguns locais iniciaram a realização da denervação sem seguir os critérios recomendados, às vezes sob influência maior da própria indústria e dos grupos responsáveis pelas intervenções. Dentro das minhas propostas para ações do DHA deste ano, está a elaboração de um Posicionamento Conjunto Brasileiro sobre Denervação Renal, incluindo o próprio DHA, grupo de intervenção (SBHCI e de Arritmia da SBC) e outras sociedades irmãs (SBH e SBN), antes mesmo da prática clínica do procedimento ser amplamente difundida. Frente à controvérsia gerada pelos resultados destes estudos, é um momento importante para a discussão deste tópico. Devemos aguardar os resultados finais deste e de outros estudos em andamento, antes de supervalorizar ou desvalorizar a utilidade deste tratamento, mas devemos começar uma mobilização para organizar este posicionamento de nossos pares.

Um abraço a todos

Luiz Bortolotto
Presidente do DHA Biênio 2014-2015