Resolvi recolocar a foto de minha família na parede do consultório. Nela estão eu, Inês e os 10 filhos. Todos que a olham imaginam que ali estão oito filhos e dois netos. Lucca e Louise foram os filhos que tivemos já depois dos cinquenta anos. Assim, os temos mesmo como filhos-netos.
Em casa vivemos os desafios educacionais que envolvem três gerações. Ainda temos adolescentes e pré-adolescentes, com suas realidades distintas. Em determinados momentos misturamos o nosso comportamento com o de avós, quando tudo permitimos. Outras vezes, somos duros e intransigentes como os pais muitas vezes devem ser. O bom é que entre conflitos de gerações e dificuldades administrativas (gerenciamos uma família que é uma micro-empresa), nos divertimos mais do que temos problemas.
Recentemente vivemos a primeira comunhão de Lucca e Louise. A vantagem de estudarem em colégio cristão e com educação religiosa católica, é que essa parte da educação que deve ter a participação dos pais é também dividida com a escola.
A fase de preparação levou uns seis meses, entre reuniões e logística que envolve, entre outras coisas, as roupas, os livrinhos, as lembrancinhas e ensaios para a cerimônia. No entanto, o mais importante foi a preparação espiritual para receber pela primeira vez o corpo de Cristo. Isso envolve a compreensão do sentido do sacramento, e implica na confissão dos pecados acumulados.
Chegado o dia da confissão, levei-os ao colégio com essa finalidade. Quando retornei à noite para casa fui conversar um pouco com eles para saber como estavam se sentindo (depois de “aliviar” a carga dos pecados). Primeiro conversei com Lucca. E aí filho como foi a conversa com o padre? Ele respondeu que tinha sido legal. Contei tudo que me lembrava que tinha feito de errado, e depois ele mandou rezar dez Ave Maria e dez Pai Nosso. Depois procurei a Louise com a mesma indagação: e aí filha como foi a conversa com o padre? Diferentemente do Lucca, que foi logo contando a penitência, ela se mostrou um pouco na defensiva desejando logo encerrar a conversa. Eu insisti, e qual foi a penitência? Ela prontamente respondeu: isso é coisa minha e do padre, e não posso revelar. Persisti: filha não tem nada a ver, seu irmão me disse qual foi a penitencia dele e não vejo nenhum problema nisso. Ela rapidamente disparou: vinte Ave Maria e vinte Pai Nosso.
Eu, de brincadeira, falei: aí filha, estava carregadinha, não é mesmo? E ela respondeu: é pai, mas agora eu estou zerada.
Marco Mota
É médico cardiologista
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