Estatísticas comprovam que 80% dos homens assumem assistir e gostar de novelas. Os outros 20% são mentirosos. Eu estou com a maioria e adoro novelas. Muitas vezes até recuso compromissos (nesse caso costumo inventar uma mentira e passo para a minoria), quando os horários são coincidentes.
Agora mesmo estou com um tremendo problema. Sempre tenho acompanhado a novela das oito (que começa depois das nove). Com a instituição do horário de verão toda a programação aqui na minha cidade muda, para ajustar os horários ao que a rede Globo achar mais conveniente. Então, ocorreu a inversão dos horários da novela das sete e sem querer fui também me acostumando com ela. Com o final do horário de verão, e o retorno das novelas para os horários convencionais, vou ter dificuldade de adaptação – risos.
Gosto de novelas porque além das baboseiras que me relaxam, levantam temas para discussão. De vez em quando surgem polêmicas interessantes. No momento, chama-me atenção a discussão de maternidade entre a suposta mãe biológica (porque teve um de seus óvulos fecundado com o espermatozóide de um seu namorado já falecido), e uma mãe que contratou uma fecundação, sem saber que teria implantado em seu útero um óvulo fecundado, que não seria o seu.
Coisa inimaginável que se aproxima da ficção, mas que o avanço da ciência já é capaz de produzir. Não desejo entrar aqui na discussão ética sobre o comportamento da médica responsável pela fertilização. Não para fugir ao julgamento de uma “colega” de profissão, mas porque esse caso não tem muito do que se comentar, já que a culpa dela parece-me determinada em juízo.
A pergunta que faço é quem será a mãe de Vitória (esse é o nome da bela garota): Ester ou Beatriz? Uma totalmente preparada para a maternidade. Rompeu um casamento “feliz” pelo desejo de ser mãe. Trocou a segurança de um relacionamento, e até colocou em jogo seu futuro profissional. Viveu uma gestação plena, de nove meses, e dividiu pela amamentação as suas reservas de imunidade com sua filha recém nascida.
A outra, por sorte soube que pode ser a mãe biológica, com uma motivação interessante e bastante cheia de enlaces emotivos. O nascimento daquela filha representa o reencontro dela com seu amor de um passado, recente.
Quem deve ser a mãe de Vitória? Emocionalmente podemos dizer que Ester está mais preparada. Legalmente, Beatriz tem todo o direito de lutar pela filha biológica. No entanto, ambas estão credenciadas para a maternidade. Na vida real, seria mãe aquela que pudesse trocar mais afeto durante a vida. Maternidade não se prende necessariamente à biologia, mas é determinada pela interação afetiva que qualquer uma das duas ofereça.
Acompanharemos, com muita emoção, duas mães brigando por uma única filha. Caso pudéssemos juntar a novela das nove com a novela das oito, resolveríamos facilmente esse problema. Na novela das oito a vida real está melhor representada, lá temos várias Vitórias (que vivem num orfanato) à espera de uma mãe, e isso parece que não nos emociona.
Marco Mota
É médico cardiologista
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