Depois que publiquei (faz tempo) uma prosa falando sobre amizades mais ou menos, eu tive uma interação bastante rica com um grupo de amigos com os quais partilho tudo que escrevo. Achei interessante a preocupação de todos eles em saber se estavam enquadrados entre aqueles que “no final do dia, pingam duas gotinhas de óleo”. Depois das primeiras insinuações, eu passei a ter o cuidado de fazer uma observação dizendo para eles que todos fugiam desse padrão de amigos “mais ou menos” e estavam enquadrados na categoria de amigos “cem por cento”.
A concepção de amigos “cem por cento” pode até residir na superficialidade da amizade. As pessoas com quem mais intensamente dividimos o nosso tempo e a nossa atenção são as que mais podem observar os nossos defeitos. Tenho certeza de que para a Inês eu sou um amigo (além de cúmplice, parceiro e amante), mais ou menos. Não desejo dizer com isso que ela não sinta e nem corresponda ao afeto que tenho por ela, mas, seguramente, ela tem a maior chance de perceber os meus defeitos e, mesmo assim, continua acreditando e investindo nessa amizade já por mais de 47 anos. Com certeza, também os meus filhos, mesmo demonstrando sempre um imenso carinho por mim, devem continuar retribuindo esse amor porque se acostumaram com os meus defeitos, e seguiram me amando apesar deles.
Assim, eu desejo avisar a todos os meus amigos que também “vazo óleo”. Para os que já perceberam esse meu “vazamento”, peço compreensão. Para os que (porventura) ainda não perceberam os meus defeitos e, por isso, me achavam um amigo “cem por cento”, fiquem atentos para não sentirem frustração ao perceberem que também sou assim, mais ou menos.