Entre sem bater

Texto: Marco Mota
Maceió - AL

Uma placa com esses dizeres anotados, mantive pregada em minha porta, quando fui Diretor da antiga (porém sempre viva e atual) Escola de Ciências Médicas de Alagoas. Ela (a placa), de certa forma, marcou o meu estilo de exercer o poder compartilhado. Muitas vezes chegava para trabalhar e, ao abrir a porta, verificava que outras pessoas, atendendo ao convite expresso na placa, já haviam chegado antes de mim e estavam trabalhando em algum projeto de interesse da Escola, usando o espaço que me era destinado como Diretor, mas que, de repente, virou mesmo uma espécie de praça, onde todos, livremente, entravam e saiam sem pedir licença. Pedia desculpas, porque também entrava sem bater, dava meia volta, e saia feliz para procurar outro local para trabalhar.

Dizer que esse seria o estilo ideal de trabalhar para quem está temporariamente exercendo o poder (porque dirige alguma coisa), pode ser exagero, mas celebro ainda hoje, nos corredores da Instituição, alguns frutos positivos dessa forma pessoal de lidar com o poder. O retorno mais positivo que colho diariamente é a forma carinhosa como sou tratado, por aqueles que à época eram dirigidos por mim. É natural que, mesmo sem limitar qualquer pessoa a “entrar sem bater”, existam algumas que nunca visitaram a minha sala, e sintam antipatia por mim. A arte de dirigir não permite a unanimidade. Muitas vezes somos obrigados a tomar decisões que nos colocam de um lado ou de outro e, por conta disso, também vamos amealhando intrigas e divergências.

Lembrei-me da placa da minha porta, recentemente, ao tentar ter acesso a uma outra porta, de determinada autoridade, e esbarrar nas dificuldades de vários interlocutores, para quem tive que, além de me anunciar, explicar detalhadamente os motivos de minha visita. A minha ida não tinha como finalidade pedir nada, mas apenas comunicar uma atividade que seria desenvolvida, de puro interesse da comunidade.

Depois de longo período de espera, aproveitei-me de um breve descuido da secretária, e escapei por outra porta, onde tinha uma placa com um dizer mais significativo do que o de minha sala: saída. Por onde saí sem me abater.