Tenho um grupo de amigos que se encontra de vez em quando (cada vez menos) para teorizar a vida. Somos remanescentes de um grupo de base do Movimento Familiar Cristão. Hoje a amizade nos une mais que a própria reflexão de ser um grupamento atuante e presente nas ações do Movimento.
Nossas reuniões sempre acontecem nas nossas casas de forma alternada, e a família anfitriã fica encarregada de escolher o tema para discussão. O desta semana foi uma interessante provocação sobre a forma atual de se viver o amor. Lembro que tempos passados falávamos da completude do casal. Um tinha qualidades e defeitos que o outro não tinha e quando se juntava essas duas metades o produto era uma equação do tipo: “eu + você = a nós”. Seríamos um, desde quando conseguíssemos misturar as nossas diferenças e “incompletudes”, e dessa mistura surgisse um único ser, fortalecido pelas nossas virtudes e fragilizado pela união de nossos defeitos.
O texto discutido revoluciona esse velho e esgotado modelo, quando propõe que antes de juntarmos a nossa vida com alguém procuremos (na solidão) completar as nossas próprias frações e vivermos o inteiro.
Essa é a aprendizagem para viver o amor. Quando entro numa relação procurando a outra metade da minha fração, estou abrindo mão da possibilidade (concreta) de também ser feliz sozinho. A busca de meu inteiro será decisiva para que eu entenda o direito de meu companheiro (a) também buscar a sua felicidade apesar de mim. A equação, então, pode ser esta: ”eu + ela = eu e ela, e ambos felizes”. O encontro de dois inteiros propicia uma relação saudável, sem dominação e sem opressão. Eu posso ter o meu projeto pessoal, e ser respeitado na sua execução. Ela pode ter o seu projeto de realização pessoal, e também ser respeitada e feliz, vivenciando-o. Isso não importa que os inteiros também construam projetos comuns, como no casamento pode ser a constituição da família.
Meu amigo Amauri, um dos membros de nosso grupo de reflexão, soltou uma pérola que anotei para refletir sobre ela. Ele disse: “com respeito ao amor não se teoriza”. O amor exercita-se. É a pura constatação de que uma relação verdadeira não se constrói com pensamentos e sonhos. A verdadeira relação de amor, encontro de dois inteiros, é o exercício permanente de viver desafios juntos sem que, em algum momento, um dos dois tenha que abrir mão de seus projetos e ambições pessoais.
Para a minha inteira companheira, que já foi fração um dia, o reconhecimento por ter ajudado na minha “solidão” a construir-me também por inteiro. “E que seja eterno enquanto dure”.