A felicidade, desesperadamente

Prestei uma consultoria ao Ministério da Saúde do Brasil (2000 a 2002), e pelo menos uma vez por semana viajava à Brasília, onde me encontrava com outros colegas envolvidos na mesma proposta de trabalho. Lá experimentei do privilégio de desenvolver novas, e surpreendentes amizades. Digo surpreendentes, porque alguns amigos têm dispensado aquele tradicional tempo de conhecimento e, rapidamente, conseguem nos conquistar. Um desses amigos, lá de Minas, que tinha sido incorporado ao grupo, conseguiu conquistar a todos. Ele fez-me a indicação de um livro muito interessante. Sempre que alguém me indica uma leitura eu pergunto qual é a “grossura” do livro. Se for, tão “grosso” que não possa ser lido num único dia, deixo de me interessar. Quando lhe perguntei por esse detalhe, ele um pouco surpreso, respondeu-me: “é um pequeno livro de bolso, pode ser lido numa viagem de avião, mas você não vai se contentar com essa primeira leitura, e de repente vai seguir lendo-o por toda sua vida”.

Quis logo saber o título, e quando ele me disse logo o interesse aumentou: “A felicidade, desesperadamente”. Saí daquela reunião com o propósito de comprar na primeira livraria, e aí iniciou-se o meu “desespero”, Era um livro esgotado. Isso sinalizou para mim que muitas pessoas procuravam, e desesperadamente, a felicidade. Saí de táxi, de livraria em livraria, até encontrar a tão almejada obra num centro comercial de Brasília. De fato, o colega tinha razão, era um pequeno livro, desses que dizemos “de bolso”, e para o “desespero” de minha felicidade, poderia apreciar o seu conteúdo na minha viagem de retorno à Maceió.

É claro que não pretendo desvendar a riqueza da leitura que fiz, até porque desejo que cada leitor interessado o faça segundo a sua ótica, e não emprestando a esse tema a mesma interpretação dada (à época) pelo meu “estado da alma”. Vou tentar apenas desenvolver uma simples linha de raciocínio, sobre um tema que está presente em todos os momentos de nossa vida: a busca da felicidade (com desespero ou sem ele).

O autor a todo instante nos leva a refletir, que a felicidade está sempre ligada ao desejo não realizado. Pensamos sempre que seremos felizes se conseguirmos realizar esse ou aquele desejo, e assim a felicidade desejada está sempre relacionada a um sentimento de “falta”. Desejamos para ser felizes aquilo que está nos faltando e, quando conseguimos conquistar o que almejamos, voltamos a nos sentirmos infelizes porque o “desejo” foi satisfeito.

Observando sempre desse modo, talvez possamos entender porque a vida é sempre tão cheia de frustrações. Seguimos vivendo nesse paradoxo de buscar a realização do desejo para conseguir a felicidade, e vamos nos frustrando porque depois de realizado o desejo, surge sempre a sensação de um vazio que nos deixa novamente infelizes.

Se o autor estiver com a razão, penso que uma boa estratégia de não conviver com essa busca desesperada da felicidade é procurando ser feliz - no tempo da espera do desejo – e, não tendo pressa em concretizá-lo para nunca precisar dizer como Woody Allen: “como eu seria feliz se fosse feliz”. Ou, fazendo o que diz Jules Renard em seu “Diário”: “Nada desejo do passado. Já não conto com o futuro. O presente me basta. Sou um homem feliz porque renunciei a felicidade”. “Renunciar a felicidade? Talvez seja a única maneira de viver – parando de esperar.



Marco Mota
É poeta e médico Cardiologista
E-mail: mota-gomes@uol.com.br