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HISTÓRIA
O Surgimento da SBHCI
A extensão das contribuições à hemodinâmica e ao cateterismo cardíaco no
nosso país tem sido significativa desde 1946. Neste ano, Horácio Kneese
de Melo publicou, na Revista Paulista de Medicina, artigo intitulado "Angiocardiografia",
inaugurando a literatura nacional sobre cateterismo cardíaco. Depois de
revisto e acrescido de aspectos técnicos e de interpretação diagnóstica,
o mesmo foi divulgado em conjunto com seus colaboradores nos Arquivos
Brasileiros de Cardiologia em 1949, motivando mais amplamente na
comunidade cardiológica nacional o interesse pela nova especialidade.
A partir de então as contribuições têm sido inúmeras. Pode-se citar até
1960 os nomes de Jarussi e cols., Marcondes e cols., Melo e cols.,
Levoci, Barbato e cols., Borges e cols., Fugioka e cols., Lion,
Granville e cols., Freitas e cols., Rigatto e cols. e muitos outros não
menos importantes. Naquela época os estudos baseavam-se mais em
parâmetros hemodinâmicos, como medidas de débito cardíaco e oximétricas
e curvas de pressão de cavidades e vasos, e quase nada em imagens
dinâmicas. O estudo de um paciente mitral, por exemplo, durava três,
quatro horas, medindo-se pressões, consumo de oxigênio e débito cardíaco
em repouso e exercício, esgotando-se as possibilidades de investigação
fisiopatológica. Embora já estivesse em uso a angiocardiografia (não a
cineangio) no nosso meio, esse exame era reservado só para cardiopatias
congênitas. Compensava-se a falta de cateterismo e angiocardiografia
nesses casos por um completo estudo fisiológico, o que possibilitava
precisas indicações cirúrgicas. Cine a parte, do ponto de vista
hemodinâmico, os pacientes eram mais completamente investigados que hoje
em dia.
O livro "Hemodinâmica, Angiocardiografia - Interpretação Clínica" do
Departamento de Hemodinâmica e Angiocardiografia da Sociedade Brasileira
de Cardiologia, editado em 1988 por Pimentel Fo. e Maeve de Barros
Correa, apresenta extensa bibliografia de contribuições nacionais,
muitas originais, sobre o tema e no capítulo "Histórico" de Wilson
Pimentel Fo está relacionada variada bibliografia de contribuições à
especialidade ao longo dos anos e a partir de 1960, quando, desde então,
os trabalhos nessa área e contribuições originais não param de aumentar
cada vez mais.
Em 1966, no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo, José
Eduardo M. R. Souza realizava a primeira cinecoronariografia no Brasil,
sendo que dentro dos próximos dezoito meses diversos grupos já
publicavam suas experiências com esse método diagnóstico.
Em 1971, pela primeira vez no mundo, também no Brasil, Galiano e cols.
realizaram uma recanalização mecânica de coronária, passando um cateter
diagnóstico de Sones por um trombo oclusivo localizado numa coronária
direita, melhorando o paciente que se encontrava em choque cardiogênico.
A partir da década de setenta houve uma verdadeira explosão de centros
diagnósticos no nosso país voltados para a investigação de
coronariopatias por meio de cateterismo cardíaco, popularizando-se no
meio médico o estudo hemodinâmaico e cineangiocoronariográfico. O
aperfeiçoamento da técnica fez aumentar muito em todas as áreas de
estudo de cardiopatias (congênitos, valvulares, miocardiopatas, etc, e
principalmente coronariopatas) o número de publicações e de interessados
no método e de seus praticantes, que passaram a ser chamados de
“hemodinamicistas” ou de “angiocardiografistas”.
Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista:
Evento marcante para o maior desenvolvimento da hemodinâmica e do
cateterismo cardíaco no nosso país ocorreu em 10 de julho de 1975,
quando, por ocasião do 31o Congresso Brasileiro de Cardiologia, durante
Assembléia Geral Ordinária da Sociedade Brasileira de Cardiologia, foi
criado o Departamento de Hemodinâmica e Angiocardiografia (DHA) da mesma
e que, no dia 2 de dezembro de 1976, realizou seu primeiro Congresso em
Guarujá, São Paulo. Desde então esses congressos tem se repetido
anualmente, com extraordinário sucesso e inúmeras contribuições. O DHA
contou entre seus fundadores com 68 sócios titulares, 37 aspirantes, 10
associados, 2 colaboradores e 3 membros honorários. Sua importância na
criação de normas e diretrizes para a especialidade no nosso país é
fundamental.
Em 1979, foi realizada a primeira angioplastia coronariana no Brasil, em
Curitiba, por Costantino Costantini e cols., utilizando a técnica
original de Gruentzig num paciente de 55 anos. Logo a seguir, Eduardo
Souza e cols., no Dante Pazanese, Siguemituzo Arié e cols., no INCOR,
ambos em São Paulo, Carlos Gottschall e cols., no Instituto de
Cardiologia de Porto Alegre, e outros passaram a empregar a técnica de
maneira crescente no nosso país.
Em 1981, iniciava-se a reperfusão coronariana no infarto agudo do
miocárdio, com injeção intracoronariana de estreptoquinase, no INCOR, em
São Paulo, por Giovani Bellini e cols., e depois expandida também para a
via sistêmica por Lélio A. Silva e cols.
Em 1982, Carlos Gottschall e cols. apresentaram o primeiro caso
brasileiro, com sucesso, de recanalização por angioplastia de coronária
cronicamente ocluída.
Em 1983, foi efetivada pela primeira vez no Brasil, por Valmir F. Fontes
e cols., uma valvuloplastia pulmonar para tratamento da estenose
pulmonar congênita, com sucesso, abrindo caminho para a expansão da
indicação de tratamento por cateter de outras formas de cardiopatias
congênitas.
A partir da metade da década de oitenta, generalizou-se o uso da
angioplastia coronariana para recanalização mecânica e tratamento da
fase aguda o infarto do miocárdio bem como a realização de angioplastias
de múltiplos vasos.
Em 1986, Eduardo Souza e cols. implataram pela primeira vez no Brasil,
com sucesso, um stent de Palmaz-Schatz num homem, e em 2001 publicaram o
primeiro relato internacional mostrando que stents “revestidos” com
drogas, no caso a Rapamicina, praticamente anulam a reestenose
coronariana, o “calcanhar de Aquiles” da angioplastia.
Em 1991, foi criada a Central Nacional de Intervenções Cardiovasculares
(CENIC), um banco de dados oficial alimentado voluntariamente por sócios
titulares habilitados em intervencionismo cardiológico pelo DHA, para
documentar o desempenho e a evolução da especialidade no Brasil,
presidido pela Dra. Amanda Guerra Souza, e que vem fornecendo preciosas
informações para monitoração e orientação dos processos
intervencionistas.
Com tamanha expansão da hemodinâmica e cardiologia intervencionista no
mundo e no nosso país, os “hemodinamicistas” e “angiocardiografistas”
começavam a ter vôo próprio, praticamente independente da cardiologia
clínica. Há muito suas atividades não se voltavam só para os estudos
fisiopatológicos e daignósticos mas se dirigiam principalmente para a
terapêutica intervencionista das cardiopatias. Assim, em 1993, em Belo
Horizonte, por ocasião do 49O. Congresso da Sociedade Brasileira de
Cardiologia, fundou-se a Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e
Cardiologia Intervencionista (SBHCI), decidindo-se que todos os
integrantes do DHA da SBC passavam a ocupar ativa e retroativamente
idênticos títulos e posições que ocuparam, ocupassem ou viessem a ocupar
ao longo da existência do DHA da SBC. Nessa ocasião começou a ser
publicada a Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva, órgão científico
oficial da SBHCI, sendo seu primeiro editor Marco Antonio Perin.
Hoje o quadro social da SBHCI é composto por várias centenas de colegas,
não cessa de crescer, a Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista é
reconhecida e está prestes a ser oficializada como uma especialidade
independente da Cardiologia, e o número de laboratórios de Hemodinâmica
e Cardiologia Intervencionista com opções diagnósticas e terapêuticas
espalha-se por todo o território nacional, muitos deles em igualdade com
os melhores do mundo. Concluindo, além de todo o progresso que a SBHCI
estimulou na sua própria área, o que só por isso justificaria sua
existência, há que reconhecer acima disso o espírito de união
desenvolvido na grande comunidade dos hemodinamicistas brasileiros, a
normatização de condutas e procedimentos, a divulgação científica por
seus congressos e publicações, o nascimento da idéia de uma nova
especialidade, e principalmente a força que nos estimulará a novas
conquistas.
Carlos Antonio Mascia Gottschall
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