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Estatinas e diabetes: devemos nos preocupar?

Dr. Daniel Branco de Araújo

28/09/2020

Diretor do Departamento de Aterosclerose da SBC
Médico da Seção de Dislipidemias e Diabetes do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
Coordenador do Centro de Treinamento Avançado do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
Doutor em cardiologia pelo INCOR/FMUSP

A terapia com estatina desempenha importante papel na prevenção primária e secundária da doença aterosclerótica. 1,2Estudos sugerem, todavia, que seu uso pode aumentar o risco de aparecimento de diabetes.1,2Apesar disso, o potencial diabetogênico das estatinas é baixo e está mais relacionado a pacientes com alterações metabólicas prévias a seu uso, como alteração da glicemia de jejum, obesidade abdominal, idade mais avançada e associadas a tratamento com altas doses de estatina1,2.
Estudos têm demonstrado de maneira convincente que o risco anual de desenvolver diabetes com o uso de estatina é baixo, de aproximadamente 0,1%1, em comparação ao grande benefício de redução absoluta do risco dos principais eventos coronarianos, em redor de 0,42% ao ano.3Ou seja, temos que tratar cerca de 255 pacientes por 4 anos para diagnosticar um com diabetes enquanto tratamos apenas 9 para prevenir um evento cardiovascular. Esses dados sugerem a diminuição de quatro vezes do risco cardiovascular em comparação com o risco de diabetes e recomendam fortemente o início do uso de estatina em pacientes com indicação de prevenção cardiovascular4,5,6,7.
Metanálise de 26 estudos com diversas estatinas, demonstrou não haver efeitos significativos da terapia sobre o controle glicêmico em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2)4.
Conclui-se que o tratamento das dislipidemias deve ser realizado sempre de modo a atingir as metas ideais de LDL-C com a finalidade de reduzir o risco de eventos cardiovasculares e de mortalidade.

Referências bibliográficas

1 Sattar N, Preiss D, Murray HM, Welsh P, Buckley BM, de Craen AJ, et al. Statins and risk of incident diabetes: a collaborative meta-analysis of randomised statin trials. Lancet. 2010:375(9716):735-42.
2 Ridker P, Pradhan A, MacFadyen JG, Libby P, Glynn RJ. Cardiovascular benefits and diabetes risks of statin therapy in primary prevention: an analysis from the JUPITER trial. Lancet. 2012;380(9841):565-71.
3 Cholesterol Treatment Trialists' (CTT) Collaborators. The effects of lowering LDL cholesterol with statin therapy in people at low risk of vascular disease: meta-analysis of individual data from 27 randomised trials. Lancet. 2012;380:581-90.
4 Zhou Y, Yuan Y, Cai RR, Huang Y, Xia WQ, Yang Y, et al. Statin therapy on glycaemic control in type 2 diabetes: a meta-analysis. Expert Opin Pharmacother. 2013;14(12):1575-84.
5 Faludi AA, Izar MCO, Saraiva JFK, Bianco HT, Chacra APM, Bertoluci MC, et al. Diretriz brasileira baseada em evidências sobre prevenção de doenças cardiovasculares em pacientes com diabetes: posicionamento da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Arq Bras Cardiol. 2017a;109(6 Supl.1):1-31.
6 Faludi AA, et al. Atualização da diretriz brasileira de dislipidemias e prevenção da aterosclerose – 2017. Arq Bras Cardiol. 2017b;109(2 Supl 1):1-76.
7 Sociedade Brasileira de Diabetes. Posicionamento oficial SBD (n° 01/2015). Recomendações sobre o uso de estatinas em pessoas com diabetes [acesso em 12 mar 2020]. Disponível em: http://www.diabetes.org.br/profissionais/images/2017/posicionamento-1.pdf.



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