Dr. Daniel Branco de Araujo e Prof. Dr. Raul D. Santos em nome do Departamento de Aterosclerose da SBC
Data: Abril/2011
Atualmente, tem sido sugerida a hipótese que a inflamação medida pelas concentrações de proteína C reativa (PCR-as) de alta sensibilidade poderia predizer em quais indivíduos as estatinas trariam benefícios vasculares. Uma análise “post-hoc” do Estudo de Proteção do Coração - HPS publicado na revista Lancet (Lancet 2011;377:469-76) , foi desenhado para avaliar esta hipótese. Foram estudados 20.536 homens e mulheres entre 40 e 80 anos com alto risco para eventos vasculares segundo critérios clínicos (40% com infarto do miocárdio prévio) com colesterol total > 135 mg/L. Os pacientes foram divididos em 6 grupos de PCR-as (<1,25, 1,25-1,99, 2,0-2,99, 3,0-4,99, 5,0-7,99, e maior ou igual a 8,0 mg/L). O primeiro desfecho para análise de subgrupos foram eventos cardiovasculares maiores, definidos como morte coronariana, infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico ou revascularização miocárdica. A análise foi por intenção de tratar e os subgrupos de estudo tinham cerca de 3.000 pacientes. O tratamento com 40 mg de sinvastatina reduziu as concentrações de LDL-colesterol e PCR-as respectivamente em 25 e 27%. Os resultados do estudo demonstram que as reduções de eventos vasculares pelo uso de foram consistentes independentemente das concentrações basais de PCR-as e LDL-colesterol: houve o mesmo benefício relativo do tratamento em todos os grupos, ou seja, redução de 24% (95% IC 19–28) dos eventos clínicos. Mesmo em pacientes com PCR < 1,25 mg/L, os eventos vasculares foram diminuídos em 29% (99% IC 12–43, p<0,0001). Uma clara evidência de benefício redução de 27% (99% IC 11–40, p<0,0001) nos eventos clínicos foi encontrada em pacientes com baixas concentrações de LDL-colesterol e PCR-as. A conclusão dos autores do HPS foi que os resultados deste grande estudo não suporta a hipótese de que as concentrações de PCR-as possam predizer e ou modificar o impacto do tratamento com estatinas para a prevenção da doença vascular de forma significativa. A favor das conclusões dos autores temos o grande numero de pacientes avaliados e o maior numero de eventos clínicos em estudo que avaliou o papel da PCR-as como marcadora de risco.Como limitações temos o fato de ser uma análise “post-hoc” embora tenha disso mantida a randomização do estudo. A nosso ver a principal explicação para os resultados do estudo HPS é devido ao tipo de população que foi estudada: pacientes de alto risco segundo dados clínicos sendo que muitos deles já tinham doença cardiovascular prévia. Vários estudos indicam que a PCR pode ser utilizada para reclassificar o risco de doença coronária em pacientes de risco baixo e intermediário (6-20% em 10 anos) segundo parâmetros clínicos e que a mesma não tem influência como marcador de risco em indivíduos classificados como de alto risco cardiovascular (Miname MH & Santos RD Rev Assoc Med Bras 2009;55:502-4). Em indivíduos com vários fatores de risco e nos portadores de doença cardiovascular prévia sua determinação não teria nenhuma função. A maior mensagem do HPS é que as estatinas devem ser utilizadas em dose adequadas e de forma contínua, no caso da sinvastatina 40 mg/dia por pelo menos 5 anos, para a prevenção de indivíduos de alto risco cardiovascular segundo parâmetros clínicos mesmo naqueles sem sinais de inflamação subclínica (PCR< 1,25 mg/L) e com LDL-c considerado baixo (<104 mg/dl).
Referências:
1. C-reactive protein concentration and the vascular benefits of statin therapy: an analysis of 20 536 patients in the Heart Protection Study. Lancet 2011; 377:469-476..
2.Miname MH, Santos RD. O uso da proteína C reativa para a prevenção da aterosclerose: entre Jupiter e Marte. Rev Assoc Med Bras. 2009;55:502-4.
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