Entrevistado:
Dr. Renato Delascio Lopes
Professor de Medicina da Divisão de Cardiologia e Diretor Associado do Programa de Fellowship em Cardiologia Duke Clinical Research Institute (DCRI) / Duke University Medical Center (DUMC), Durham, NC, USA.
Professor Afiliado do Departamento de Medicina - Divisões de Clínica Médica e Cardiologia.
Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina, São Paulo, SP, Brasil.
Diretor Executivo do Brazilian Clinical Research Institute (BCRI)
Entrevistador:
Dr. Flavio de Souza Brito
Fellow de Cardiologia do Duke Clinical Research Institute (DCRI) / Turma 2013/2014
Médico Investigador do Brazilian Clinical Research Institute (BCRI)
Pós-graduando do Departamento de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina.
Membro Colaborador do DEIC Jovem
Dr. Flavio: Dr. Renato, obrigado por estar conosco nesta primeira entrevista. Para contextualizar os colegas que nos leem, fale-nos um pouco sobre o DCRI e BCRI.
Dr. Renato: Obrigado pelo convite. É um prazer para mim ver o resultado desta parceria entre o BCRI e DCRI agora se estender em parte para o DEIC, o que com certeza será um sucesso. O Duke Clinical Research Institute (DCRI) conceitualmente falando inicia-se em 1969 com a criação do Duke Databank for Cardiovascular Disease (DDCD), resultado da idéia do Dr. Eugene A. Stead Jr. que objetivava auxiliar médicos que futuramente se defrontassem com pacientes similares aos do banco de dados. Inicialmente foram coletados os dados de pacientes submetidos a cinecoronariografia e cirurgia de revascularização do miocárdio. Desde então, todos os pacientes submetidos a procedimentos invasivos na Duke tem suas informações coletadas para este banco de dados, que hoje é o maior e mais antigo
database cardiovascular do mundo.
O contato e a manutenção deste banco de dados, trouxe expertise aos
staffs da Duke, no que se refere a delineamento de estudos, confecção de registros e aspectos estatísticos. Em 1985, o DDCD iniciou a coordenação de estudos clínicos multicêntricos, e, após coordenar cerca de 10
trials americanos relativamente pequenos, o grupo liderou o GUSTO-I , o primeiro mega trial internacional em 1990, avaliando os efeitos da terapia trombolítica em 41.021 pacientes com infarto agudo do miocárdio de 1081 hospitais em 15 diferentes países. Desde então, o crescimento do centro foi exponencial e hoje o centro emprega mais de 1100 pessoas, envolve cerca de 1.100.000 pacientes em estudos conduzidos pelo DCRI, além de possuir mais de 6500 publicações em revistas com alto fator de impacto.
A idéia de criar uma extensão do DCRI na América do Sul, surgiu durante o meu Fellowship em Cardiologia aqui na Duke. Imaginando que poderia expandir os horizontes do DCRI, e desenvolver a pesquisa clínica de qualidade no meu país , assim como vinha fazendo nos Estados Unidos, criei o Brazilian Clinical Research Institute (BCRI), que foi inaugurado oficialmente em setembro de 2010, se localiza em São Paulo-SP e hoje é o braço da Duke University na America Latina. O instituto é afiliado também a UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) e teve e tem papel fundamental em vários trials internacionais e nacionais tais como o ARISTOTLE, APPRAISE-2, TRACER, TECOS, EXSCEL, CABANA, ISCHEMIA, BRIDGE, ODYSSEY, EUCLID, BRIDGE-ACS, entre outros. Adicionalmente, contamos com infraestrutura e capacitação para desenvolvimento de protocolos de pesquisa clínica, validação de eventos clínicos, armazenamento biológico de amostras, além dos programas de mestrado e doutorado na área.
O BCRI hoje é o responsável pela seleção dos profissionais interessados de toda a América Latina em realizar o Fellowship no DCRI, assim como o Master of Health Sciense in Clinical Research. A seleção é realizada através de entrevista e análise curricular dos candidatos.
Dr. Flavio: Somadas as turmas de 2012/2013 e 2013/2014, 39 fellows atualmente cumprem o programa no DCRI, sendo 16 deles estrangeiros. Há quanto tempo existe o programa de Fellowship em Cardiologia no DCRI e qual o seu formato atual?
Dr. Renato: O programa de fellowship no DCRI, começou oficialmente em 2004 e atualmente dobrou de tamanho chegando a quase 40 fellows atuais, como você colocou. Acreditamos que podemos formar novas gerações de pesquisadores clínicos qualificados e médicos geradores de conhecimento, através da união de conhecimento clínico avançado, contato próximo e contínuo entre fellows e professores-orientadores, e fornecimento de ferramentas essenciais para o desenvolvimento adequado de um médico pesquisador.
Todos os fellows possuem dois orientadores (um primário e um secundário), de suas respectivas áreas de interesse clínico, responsáveis por guiar e monitorizar o aprendizado e os projetos de cada um. O fellow é exposto aos mais diversos tipos de projetos, entre eles: validação de eventos clínicos, planejamento e participação em mega trials, criação, confecção, submissão e avaliação de
papers das mais diversas categorias, manejo de registros clínicos e confecção de capítulos de livros. As atividades didáticas formais, compreendem: 2 Seminários semanais,
Journal Club semanal com ênfase em análise estatística, reunião clínica semanal do Serviço de Cardiologia, além da participação em visitas médicas nas unidades hospitalares de acordo com a necessidade avaliada pelo orientador-fellow.
Além da internacionalização, o programa atual expandiu-se para outras especialidades tais como Gastroenterologia e Hepatologia, Nefrologia, Psiquiatria, Neurologia, Pneumologia, Infectologia, Pediatria, dentre outras. Atualmente coordeno o programa conjuntamente com o Dr. Matthew Roe e tenho muito orgulho do que ele se tornou. Além de oferecer formação capacitada não só na área cardiológica, também promove interação e integração saudável e extremamente proveitosa entre médicos e médicas das mais diversas partes do mundo.
Dr. Flavio: O curso de Master of Health Sciense in Clinical Research tem sido um sucesso entre seus participantes. Como funciona este programa de pós graduação?
Dr. Renato: A primeira turma do curso de Master of Health Sciense in Clinical Research iniciou suas atividades em 2011 e a graduação acontecerá em maio de 2013, sob minha orientação. Portanto, o curso tem duração de 2 anos e oferece treinamentos em pesquisa clínica quantitativa e metodológica com aulas semanais transmitidas da Duke University para o Brasil via videoconferência. O BCRI investiu em ambiente apropriado para a realização do curso, com a mais avançada tecnologia para video-conferências, propiciando ao aluno verdadeira imersão durante as aulas. Essa primeira turma de cardiologistas se formarão em pesquisa clínica pela Duke University, sem ter tido a necessidade de sair de São Paulo. Isso é inédito, ilustra uma colaboração internacional de mais alto nível, coloca o Brasil na vitrine científica do mundo, abre oportunidades para muitos, democratiza o conhecimento médico e em pesquisa clínica, além obviamente de fazer parte de nossa missão como professor universitário e formador de discípulos. As inscrições para a próxima turma se iniciará em janeiro de 2013 com início previsto para agosto de 2013.
Foto da fachada do BCRI (retirada de http://www.bcri.org.br)
Av. Marechal Câmara, 160
3º andar - Sala: 330 - Centro