O cardiologista Aguinaldo Freitas Jr aproveitou o Congresso Brasileiro de Cardiologia, em Recife, para trocar experiências com o
Prof. Nazzareno Galié, da Universidade de Bologna, na Itália e um dos maiores especialistas da atualidade em Hipertensão Pulmonar e Manejo da Insuficiência Cardíaca Direita. Veja parte desta entrevista logo abaixo.
Professor Galié, muito obrigado por sua atenção e pela oportunidade de ouvi-lo pessoalmente e poder compartilhar sua experiência sobre a abordagem da Hipertensão Pulmonar e Disfunção Ventricular Direita.
Dr. Aguinaldo: No que consiste o remodelamento ventricular direito secundário a Hipertensão Pulmonar? Este remodelamento deve ser abordado da mesma maneira que o ventrículo esquerdo ou existem peculiaridades que tornam o VD especial?
Dr. Nazzareno: O remodelamento ventricular direito decorre, essencialmente, do aumento da pós-carga secundário a hipertensão pulmonar. Isso promove hipertrofia e dilatação miocárdica, insuficiência tricúspide e, por último, insuficiência cardíaca direita. Situação semelhante no ventrículo esquerdo ocorre na estenose aórtica. Em ambos os modelos, o tratamento mais adequado é remover (ou pelo menos reduzir) o obstáculo à ejeção ventricular. Como o VD é mais sensível que o VE, talvez a abordagem mais precoce da pós-carga seja uma boa saída.
Dr. Aguinaldo: No Congresso Brasileiro de Cardiologia você abordou o tema “Manejo da Disfunção Ventricular Direita em pacientes com Hipertensão Pulmonar”. Como o seu grupo na Universidade de Bologna tem lidado com pacientes com Cor Pulmonale e insuficiência cardíaca direita isolada?
Dr. Nazzareno: Em se tratando de hipertensão pulmonar a única saída que temos hoje é reduzir a resistência vascular pulmonar por meio das drogas aprovadas. Ainda bem que, na grande maioria dos casos, conseguimos uma redução em torno de 20-30%, o que diminui a progressão da insuficiência cardíaca direita, mas não a sua reversão.
Dr. Aguinaldo: Você acredita que o sildenafil possa ter efeitos inotrópicos diretos sobre o miocárdio ventricular direito, ou apenas de forma indireta, por redução da resistência pulmonar?
Dr. Nazzareno: Veja bem, um efeito inotrópico do sildenafil nunca foi demonstrado em pacientes com hipertensão pulmonar e, pessoalmente, eu acredito que os inibidores da PDE-5 são efetivos por agirem na microcirculação pulmonar (tanto como vasodilatador, como antiproliferativo). Em cardiologia, diferentes drogas vasoativas (aminas e inibidores da PDE-3) tem demonstrado alguns efeitos favoráveis sobre o débito cardíaco direito, porém tem sido associadas a maior mortalidade em longo tempo. Portanto, ainda acho que a melhor opção ainda está na vasodilatação pulmonar.
Dr. Aguinaldo: Como tem sido o manejo terapêutico da IC direita descompensada associada com hipertensão pulmonar? Alguma peculiaridade diferente?
Dr. Nazzareno: Para os casos sintomáticos, diuréticos e, se necessário, inotrópicos por tempo bem limitado (poucos dias). Faz parte do nosso protocolo o uso agressivo e conjunto de prostanóides, inibidores dos receptores da endotelina e inibidores da PDE-5, a fim de reduzir ao máximo a hipertensão pulmonar e frear o remodelamento ventricular direito.
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