Em breve entrevista ao Dr. Aguinaldo Freitas Jr, o Professor Edward Yeh sumariza alguns aspectos atuais na condução de pacientes sob tratamento do câncer e seus riscos para desenvolverem cardiotoxicidade. O Professor Yeh, antes no MD Anderson – Houston e, agora, na University of Missouri School of Medicine, tem ampla experiência em Cardio-Oncologia e nos mecanismos moleculares da cardiotoxicidade induzida por antracíclicos.
Veja abaixo trechos deste breve bate papo.
Freitas Jr: Professor Yeh, em estudos anteriores você identificou a base molecular do mecanismo da cardiotoxicidade induzida pela doxorrubicina. Na sua opinião, a única maneira de prevenir essa complicação é bloqueando ou deletando a topoisomerase 2 beta (Top2ß)? Essa experiência foi conduzida em ratos, mas e em humanos?
Yeh: O principal culpado na cardiotoxicidade induzida pela doxorrubicina é a topoisomerase 2b. Como a deleção da Top2ß específica de cardiomiócitos previne a cardiotoxicidade induzida pela antraciclina em camundongos, espera-se similarmente que a baixa expressão cardíaca de Top2ß previna, também, a cardiotoxicidade em humanos. Esta hipótese foi comprovada em modelo de ratos e apoiada pela eficácia do Dexrazoxano em humanos. Além do mais, diversas estratégias utilizando inibidores da ECA, betabloqueadores ou outras drogas usualmente utilizadas no tratamento da ICFEr não se mostraram eficazes na prevenção da disfunção miocárdica.
Freitas Jr: Quais são as opções disponíveis para a deleção da Top2ß? Você indica para todos os pacientes ou para um grupo selecionado de alto risco? Como podemos estratificar esses pacientes na prática clínica?
Yeh: O pré-tratamento com o Dexrazoxano é a única opção para deletar a Top2ß, pelo menos até o atual momento. O Dexrazoxano é o único agente cardioprotetor aprovado pela FDA para a cardiotoxicidade induzida pela antraciclina. É um agente cardioprotetor eficaz contra antraciclinas em vários tipos de câncer em crianças e adultos e sua capacidade de quelação do ferro foi considerada como o principal mecanismo cardioprotetor.
Estudos genéticos com Top2ß ainda estão em andamento, portanto não podemos utilizá-los na prática clínica. Entretanto, detecção do leucócito do sangue periférico Top2ß foi investigado como um biomarcador substituto para a suscetibilidade individual à cardiotoxicidade induzida pela antraciclina. Os níveis de Top2ß foram comparados entre 21 pacientes sensíveis à antraciclina (diminuição da FEVE em 10% em relação ao basal ou FEVE < 50%) e 15 pacientes resistentes à antraciclina (FEVE mantida > 50%). Top2ß foi significativamente maior no grupo sensível à antraciclina do que no grupo resistente (0,4 +/- 0,28 ng/mg vs. 0,23 +/- 0,1 ng/mg, p=0.026). Os níveis de Top2ß no grupo resistente à antraciclina estavam todos abaixo de um ponto de corte de 0,5 ng/mg. Embora a confirmação exija maiores estudos prospectivos, esses resultados sugerem que os níveis periféricos de Top2ß podem ser úteis para estratificar pacientes com risco de cardiotoxicidade às antraciclinas.
Freitas Jr: Qual sua análise sobre o papel da troponina na detecção ou predição de cardiotoxicidade? Ela tem realmente uma forte correlação com a probabilidade de desenvolvimento de disfunção miocárdica? E outros marcadores, como o BNP?
Yeh: A troponina, especialmente testes de alta sensibilidade, correlaciona-se com a cardiotoxicidade subclínica, mas pode ou não levar à alterações na fração de ejeção. O BNP não é útil.
Freitas Jr: Como você monitora, na prática clínica, a ocorrência de cardiotoxicidade e com que frequência?
Yeh: Atualmente não há evidências fortes para validar um protocolo de monitoramente da ocorrência de disfunção ventricular, portanto as rotinas variam em cada instituição. Em nosso serviço temos projetos de monitoramento e detecção precoce da cardiotoxicidade com base nas manifestações clínicas, ecocardiograma periódico e dosagem de troponinas de alta sensibilidade após ciclos de quimioterapia. O que temos observado é que quanto mais cedo detectarmos reduções na FEVE e instituírmos o tratamento padrão, melhor sera o prognóstico
Professor Yeh, agradeço seu tempo dispensado para esse breve bate papo e tenha certeza que seu ponto de vista e linha de pesquisa auxliará na condução de pacientes sob tratamento quimioterápico.
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