As patologias cardíacas e vasculares crônicas são as de maior incidência na população adulta mundial e as principais causas de mortes em idosos.
Em se tratando da Insuficiência Cardíaca (IC), a incidência é maior em indivíduos a partir de 65 anos. Nesta faixa etária, a IC é responsável por 92% da mortalidade, 31% das hospitalizações e 18% dos atendimentos de urgência. Em linhas gerais, a insuficiência cardíaca ocorre por doença do músculo cardíaco (cardiomiopatia), tendo diversas nomenclaturas de acordo com a causa como, por exemplo, cardiomiopatia chagásica, cardiomiopatia hipertensiva, cardiomiopatia dilatada, cardiomiopatia isquêmica, entre outras.
Com o adoecimento físico de um indivíduo, o foco do seu cuidado tende a voltar-se para o corpo. Porém, não há como não integrar a este novo cenário as prováveis repercussões psicológicas que este sujeito possa vir a sofrer. Quando a doença em questão é uma cardiopatia, emergem aspectos relacionados ao simbolismo do coração.
Jung (1974) denomina os símbolos como sistemas funcionais autônomos e os revela como corpos vivos. Ou seja, o autor atribui a estes um caráter arquetípico/universal. Logo, quanto mais arcaicos e profundos em um sentido fisiológico, mais os símbolos se tornam coletivos. Com isto, é possível acessar o caráter coletivo da simbologia do coração que permeia o inconsciente coletivo. Logo, o coração simboliza universalmente a sede das emoções (“coração apertado”, “fonte da vida”, “coração sai pela boca”).
Assim, é plausível estabelecer um paralelo entre a Insuficiência Cardíaca e a simbologia que o coração carrega. Adoecer do coração não é simplesmente padecer de uma cardiopatia, pode significar adoecer emocionalmente. O paciente com IC pode experimentar sentimentos de culpa relacionados ao seu estilo de vida, que possivelmente influenciou o desenvolvimento da cardiopatia. Além disto, é comum que este experimente sentimentos de incapacidade diante das limitações físicas resultantes da IC e o temor frente a proximidade da morte. Sendo assim, a Insuficiência Cardíaca promove o confronto do sujeito com sentimentos de impotência ou seja, insuficiência frente ao controle de seu corpo e vida. Logo, a experiência da Insuficiência pode extrapolar os limites físicos/cardíacos e adentrar em territórios psíquicos.
Assim, salienta-se a importância da avaliação psicológica e seguimento em processo psicoterapêutico para que tais representações possam ser compreendidas e ressignificadas a partir da vivência do sujeito, tornando o adoecer um processo suportável.
Referências Bibliográficas:
1) PEREIRA-BARRETTO, A. C.. Insuficiência Cardíaca Congestiva. Como diagnosticar e tratar. Revista Brasileira de Medicina, São Paulo, v. 62, p. 88-97, 2005.
2) JUNG, C. G. Aion, estudos sobre o simbolismo do si-mesmo. Tradução por Dom Mateus Ramalho 7ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2008.
3) ROMANO, B. W. Psicologia e Cardiologia: encontros possíveis. Casa do Psicólogo, São Paulo, 2001
4) PEREIRA, P. “Quando o coração adoece”. In: A Prática da Psicologia nos Hospitais. Romano, BW (org.). São Paulo, 1994.
Autoras
Marília Lídia de Assis
CRP 06/102.993
Psicóloga Clínica
Graduada pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IPUSP)
Aprimorada e Especialista em Psicologia Clínico Hospitalar em Cardiologia
pelo Instituto do Coração - INCOR HCFMUSP
e-mail: mariliaassis@hotmail.com
Isabella Lumare
CRP 06/99206
Psicóloga Clínica
Graduada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie
Aprimorada e Especialista em Psicologia Clínico Hospitalar em Cardiologia
pelo Instituto do Coração - INCOR HCFMUSP
e-mail: isalumare@hotmail.com
Av. Marechal Câmara, 160
3º andar - Sala: 330 - Centro