A insuficiência cardíaca (IC) é uma das principais causas de morbidade e mortalidade dentre as doenças cardiovasculares, além do elevado custo e índice de hospitalizações1. No Brasil é a principal causa de internações e óbitos por doença cardiovascular2.
Essa síndrome contribui para o desbalanço autonomico3 com predominância do sistema simpático sobre o parassimpático, favorecendo a exacerbação do trabalho cardíaco4.
A atividade nervosa simpática muscular (ANSM) é um marcador de gravidade e prognóstico,4 além de preditor independente de mortalidade5 em pacientes com IC (classe funcional II-IV, New York Heart Association - NYHA).
A intolerância ao esforço é sintoma clássico de pacientes com IC, sendo proporcional a severidade da doença6. Além do tratamento farmacológico convencional, o efeito do treinamento físico tem sido bastante estudado nesses pacientes.
Partindo dessa perspectiva, Antunes-Correa et. al (2010)7 submeteram pacientes com IC ao treinamento físico. O protocolo de treino foi realizado em sessões de 60 minutos três vezes por semana, durante quatro meses em cicloergometro. O estudo demonstrou que nesses pacientes a ANSM foi reduzida no grupo de homens (P=0.0004) e mulheres (P=0.002) que realizaram treinamento. Não foi encontrada diferença significativa no grupo de homens (P=NS) e mulheres (P=NS) que não treinaram.
Fraga et. al (2007)8, testaram a hipótese de que o treinamento físico associado ao uso de carvedilol reduziria a ANSM em pacientes com IC (NYHA CF II-III). Após protocolo de quatro meses, os pacientes do grupo submetido ao treinamento físico obtiveram redução na ANSM (-14±3.3 disparos /100 bpm, p=0.001), se comparado ao grupo não treinado (5±5 disparos /100 bpm, p=NS).
Em estudo realizado por Negrão et. al (2001)9 foi medida a ANSM no grupo IC grave, IC moderada e controles saudáveis. Cada grupo realizou exercício isométrico leve de handgrip a 10% da contração voluntária máxima (CVM) (reflexo do comando central e mecanorreceptores) e moderado a 30% da contração voluntária máxima (CVM) (reflexo do comando central e metaborreceptores). No exercício isométrico moderado a 30% da CVM a ANSM aumentou de forma progressiva e similar nos três grupos (efeito do grupo P< 0.0001, efeito do tempo P < 0.0001, interação P = 0.55). No exercício leve a 10% da CVM a ANSM aumentou significativamente apenas no grupo IC grave, mas não no grupo IC leve e grupo controle (efeito do grupo P < 0.0001, efeito do tempo P < 0.0001, interação P = 0.02). Esses resultados demonstraram que tal aumento da ANSM foi atribuído a uma maior ativação dos mecanorreceptores no grupo IC grave.
Assim, é visto que estudos tem tornado cada vez mais consistente os efeitos positivos do exercício físico no âmbito das doenças cardiovasculares e, sobretudo, auxiliando para a redução da repercussão deletéria da atividade nervosa simpática muscular na IC.
Referências
1-Norton C, Vasiliki V. Georgiopoulou, Kalogeropoulos AP, Butler J. Epidemiology and Cost of Advanced Heart Failure. Progress in Cardiovascular Diseases 54 (2011) 78–85.
2-Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Ayub-Ferreira SM et. al. III Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. Arq Bras Cardiol 2009;92(6 supl.1):1-71.
3- Negrão CE, Barreto ACP. Efeito do treinamento físico na insuficiência cardíaca: implicações autonômicas, hemodinâmicas e metabólicas. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo Vol 8 No 2 Mar/Abr 1998.
4-Munhoz RT, Negrão CE, Barretto ACP. Microneurography and Venous Occlusion Plethysmography in Heart Failure: Correlation with Prognosis. Arq Bras Cardiol 2009;92(1):44-51.
5-Barreto ACP, Santos AC, Munhoz R. et. al. Increased muscle sympathetic nerve activity predicts mortality in heart failure patients. International Journal of Cardiology 135 (2009) 302–307.
6- Grassi G, Seravalle G, Cattaneo BM, Lanfranchi A. et. al. Sympathetic activation and loss of reflex sympathetic control in mild congestive heart failure. Circulation. 1995 Dec 1;92(11):3206-11.
7-Antunes-Correa LM, Melo RC, Nobre TS et. al. Impact of gender on benefits of exercise training on sympathetic nerve activity and muscle blood flow in heart failure. European Journal of Heart Failure (2010) 12, 58–65.
8- Fraga F, Franco FG, Roveda F et. al. Exercise training reduces sympathetic nerve activity in heart failure patients treated with carvedilol. European Journal of Heart Failure 9 (2007) 630–636.
9- Negrão CE, Rondon MUPB, Tinucci T et. al. Abnormal neurovascular control during exercise is linked to heart failure severity. Am J Physiol Heart Circ Physiol 280:H1286-H1292, 2001.
Contribuição:
Prof. Leandro Silva
Graduado em Educação Física pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (BA)
Especialista em Prevenção e Reabilitação Cardiovascular - Instituto do Coração HCFMUSP
Colaborador da Unidade Clínica de Insuficiência Cardíaca e Transplante – Instituto do Coração HCFMUSP
Membro da Liga de Insuficiência Cardíaca - Instituto do Coração HCFMUSP
Erika Mendes Costa
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Goiás – ESEFFEGO
Pós-Graduanda em Fisiologia do Exercício - CEAFI - PUG/GO
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