A intolerância ao esforço é sintoma clássico em pacientes com insuficiência cardíaca e afeta negativamente a realização das atividades do cotidiano, refletindo em piora da qualidade de vida (4).
É visto que a inatividade física é um dos principais fatores de risco para o surgimento de doenças cardiovasculares (5). Ao contrário disso, os benefícios do treinamento físico têm sido cada vez mais comprovados e difundidos como tratamento não farmacológico de pacientes com insuficiência cardíaca (4), além de causar impacto positivo nos diversos mecanismos que a envolvem, responsáveis pela descompensação clínica (3).
Em interessante estudo Belardinelli et. al (2012) (1) acompanharam um grupo de pacientes com insuficiência cardíaca clinicamente estáveis que realizaram exercícios de intensidade moderada, duas vezes por semana durante dez anos e encontraram diferenças expressivas em comparação com o grupo que não realizou o treinamento regularmente nesse mesmo período. No grupo treinado o consumo de oxigênio de pico foi maior que 60% do previsto para a idade a cada ano durante os dez anos, enquanto que no grupo que não treinou regularmente houve redução de até 52±8, além de aumento significativo na ventilação relativa de dióxido de carbono (VE / VCO2 slope), que é indicador de prógnóstico, quando comparados com os pacientes treinados (42±11
vs 35±9, p < 0,01). É válido salientar que foi encontrada redução significativa do consumo de oxigênio de pico já no primeiro ano de acompanhamento no grupo não treinado. Escores da qualidade de vida, identificados pelo
Minnesota Living with Heart Failure Questionnaire, foram melhores no grupo treinado versus os não treinados (43±12
vs 58±14, p < 0,05). Esses indicadores também foram associados a menores freqüências de hospitalizações e mortes e maior sobrevida no grupo treinado. Curiosamente, os ajustes medicamentosos, especialmente os beta-bloqueadores, foram mais evidentes nos pacientes que não treinaram regularmente. Ainda é visto que pacientes submetidos a outros modelos de protocolo de treinamento físico melhoram em até 30% o consumo de oxigênio de pico concomitante a evolução na tolerância ao exercício (7).
Atualmente, propostas quanto a utilização do método de treinamento físico intervalado também tem mostrado ser interessante em programas de reabilitação para esses pacientes, em comparação com o método contínuo, apresentando escores favoráveis para a qualidade de vida e maior consumo de oxigênio (8,9).
Assim, o treinamento físico em programas de reabilitação cardíaca têm sido cada vez mais estabelecidos com ênfase ao atendimento de pacientes com insuficiência cardíaca, sobretudo, em uma abordagem multidisciplinar (6), mesmo considerando que os benefícios adquiridos com o treinamento físico, especialmente os mencionados anteriormente, poderiam ser ainda mais consistentes, uma vez que a aderência desses pacientes aos programas perpassam por uma abordagem multiprofissional (2).
Contribuição:
Prof. Leandro Silva
Graduado em Educação Física pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (BA)
Especialista em Prevenção e Reabilitação Cardiovascular / InCor HCFMUSP
Colaborador da Unidade Clínica de Insuficiência Cardíaca e Transplante / InCor HCFMUSP
Membro da Liga de Insuficiência Cardíaca / InCor HCFMUSP
Erika Mendes Costa
Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Goiás / ESEFFEGO
Pós-Graduanda em Fisiologia do Exercício - CEAFI - PUG/GO
Iram Soares Teixeira Neto
Graduado em Educação Física pelas Faculdades Metropolitanas Unidas
Especialista em Fisiologia do Exercício pela Universidade Federal de São Paulo / Unifesp
Colaborador da Unidade Clínica de Insuficiência Cardíaca e Transplante / InCor HCFMUSP
Referências
1. Belardinelli R et. al. 10-Year Exercise Training in Chronic Heart Failure - A Randomized Controlled Trial. Journal of the American College of Cardiology 2012. Vol. xx, No. x.
2. Conraads VM , C, Piotrowicz E et. al. Adherence of heart failure patients to exercise: barriers and possible solutions A position statement of the Study Group on Exercise Training in Heart Failure of the Heart Failure Association of the European Society of Cardiology. Eur J Heart Fail. 2012 May ;14(5):451-8.
3. Crimi E, Ignarro LJ, Cacciatore F, Napoli C. Mechanisms by which exercise training benefits patients with heart failure. Nat. Rev. Cardiol. 2009 6, 292–300.
4. Hunt SA, Abraham WT, Chin MH et. al. ACC/AHA 2005 Guideline Update for the Diagnosis and Management of Chronic Heart Failure in the Adult: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines (Writing Committee to Update the 2001 Guidelines for the Evaluation and Management of Heart Failure): developed in collaboration with the American College of Chest Physicians and the International Society for Heart and Lung Transplantation: endorsed by the Heart Rhythm Society. Circulation 2005 Sep 20;112(12):e154-235.
5. Ignarro LJ, Balestrieri ML, Napoli C. Nutrition, physical activity, and cardiovascular disease: An update. Cardiovascular Research 2007: 326–340.
6. Knocke A. Program Description: Physical Therapy in a Heart Failure Clinic. Cardiopulmonary Physical Therapy Journal. September 2012: Vol 23 v N 3.
7. Piña IL. Cardiac Rehabilitation in Heart Failure: A Brief Review and Recommendations. Curr Cardiol Rep 2010 12:223–229.
8. Smart NA, Steele M. A Comparison of 16 Weeks of Continuous vs Intermittent Exercise Training in Chronic Heart Failure Patients. Congest Heart Fail. 2012;18:205–211.
9. Wisloff U et. al. Superior Cardiovascular Effect of Aerobic Interval Training Versus Moderate Continuous Training in Heart Failure Patients : A Randomized Study. Circulation. 2007;115:3086-3094.
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