Esquina Científica
Decage News - 021 (Janeiro/2016)
É imprescindível ensinar o raciocínio clínico para diminuir erros diagnósticos
José Maria Peixoto (MG)
Praticamente todos os pacientes irão sofrer um erro de diagnóstico ao longo de suas vidas, às vezes com consequências devastadoras! Com esta frase de forte impacto, McGlyn (2015) iniciou seus comentários na sessão ponto de vista da penúltima revista JAMA de 2015.Embora um diagnóstico correto seja fundamental para todas as decisões em medicina, pouca atenção tem sido dada a esta etapa do atendimento médico. Esta é a conclusão apresentada pelo
Institute of Medicine of Science, Engineering, and Medicine, que recentemente publicou o documento:
Improving Diagnosis in Health Care
(http://nas.edu/improvingdiagnosis).
Segundo essa publicação os erros diagnósticos são um problema real que necessitam atenção e deveriam mobilizar a colaboração de todos: pacientes, profissionais de saúde, organizações públicas e privadas. Sugerem ser necessário encontrar meios para que os erros de raciocínio possam ser quantificados e tratados como indicadores de qualidade. Só assim será possível estabelecer a magnitude do problema, determinar suas causas e promover treinamento efetivo.
Khullar (2015), aponta que os erros diagnósticos são clinicamente e financeiramente, mais relevantes hoje que no passado. Como exemplo cita que antes da criação das unidades coronarianas a mortalidade de um infarto do miocárdio era superior a 30%. Com o desenvolvimento dessas unidades e melhoria da terapêutica, a mortalidade hoje é próxima de 5%. Portanto um erro diagnóstico hoje tem maiores implicações para o paciente e o sistema de saúde (Khullar, Jha, & Jena, 2015).
Se os fatos chamam a atenção para a atenção médica em geral, imaginem o que ocorre na população geriátrica onde as manifestações das doenças são muitas vezes atípicas e problemas cognitivos dificultam a anamnese.
É sobre esse importante tema, o processo da aquisição da habilidade do raciocínio clínico e os métodos instrucionais para o seu treinamento, que versou a Tese de Doutorado do atual Presidente do DECAGE, José Maria Peixoto, defendida em dezembro/2015 na UFMG, no Departamento de Patologia Investigativa. Neste estudo, que contou com a colaboração científica da
Erasmus Universiteit Rotterdam, o objetivo foi investigar o efeito da estratégia instrucional da autoexplicação orientada para os mecanismos fisiopatológicos (AEOMF)na acurácia diagnóstica de estudantes de medicina durante a resolução de casos clínicos (síndromes ictéricas e de dor torácica). Trata-se de um estudo experimental com uma fase de treinamento e outra de avaliação, realizado em 39 estudantes de medicina do quarto ano. Na fase de treinamento, o grupo experimental (n=20) resolveu oito casos clínicos, realizando AEOMF enquanto o grupo controle (n=19) resolveu o mesmo grupo de casos, sem nenhuma orientação específica. Após uma semana, na fase de avaliação, os alunos de ambos os grupos resolveram, sem nenhuma orientação específica, um novo conjunto de casos clínicos. A acurácia diagnóstica dos estudantes foi avaliada nos dois momentos. Após análise dos dados, verificou-se que aAEOMF não melhorou a acurácia diagnóstica dos alunos de forma generalizada. No entanto, a AEOMF parece favorecer a acurácia diagnóstica para síndromes clínicas que compartilham o mecanismo fisiopatológico, o aprendizado foi maior para as síndromes ictéricas em relação às síndromes de dor torácica.
Como vemos, o estudo do raciocínio clínico é importante e tem sido fonte de preocupação de instituições envolvidas com a qualidade da assistência médica. Apesar disto, nota-se grande escassez de pesquisa científica sobre o assunto e, portanto, trata-se de uma interessante linha de pesquisa a ser desenvolvida.
Referências:
Khullar, D., Jha, A. K., & Jena, A. B. (23 de September de 2015). Reducing Diagnostic Errors - Why Now? The New England Journal of Medicine. doi:DOI: 10.1056/NEJMp1508044
McGlynn, E. A., McDonald, K. M., & Cassel, C. K. (December de 2015). Measurement Is Essential for Improving Diagnosis and Reducing Diagnostic Error. JAMA, 314, pp. 2501-2501.