Entrevista
Decage News - 020 (Dezembro/2015)
Calcium intake and risk of fracture: Systematic Review
Alvaro Cattani (PA)
Esta é uma revisão robusta sobre suplementação de cálcio e risco de fratura
feita por um grupo da Nova Zelândia.
A suplementação de cálcio adicional a dieta é universalmente utilizada em
mulheres idosas, seguindo orientações ou guidelines de vários países e de
diversas especialidades. Entre 30 e 50% das mulheres idosas hoje tomam
suplementação de cálcio além de orientação para aumentar da ingesta diária
de alimentos ricos em cálcio. A orientação universalmente aceita é de que a
ingesta alimentar seja de 1.200 mg por dia de cálcio e a suplementação de
500 a 1600 mg. Mas o real impacto disto é pouco conhecido e os dados já
publicados são controversos.
Este estudo tem informações importantes desde a sua estruturação. Na busca
de trials randomizados, coortes, estudos caso-controle e estudos
transversais, dois grupos distintos de busca foram selecionados: um grupo de
estudos com suplementação ou orientação para aporte ideal de cálcio de
origem alimentar e outro de suplementação por cápsulas ou comprimidos. Chama
a atenção o pequeno número de estudos que avaliaram a suplementação de
origem alimentar: apenas 2 estudos randomizados, sendo necessários 44
estudos de coorte para um número razoável de pacientes para a análise. Já
para estudo de suplementação foram 22 trials randomizados e pela
consistência dos dados, foram incluídos apenas 11 estudos de coorte. Isto
mostra que estudos randomizados sobre o impacto do estímulo alimentar de
cálcio foi muito pouco estudado até hoje.
Nas análises dos estudos foram coletadas informações sobre suplementação,
tolerância e número de fraturas total, fêmur, antebraço e vertebral.
Resultados – No grupo de paciente com suplementação de cálcio de origem
alimentar, 14 de 22 estudos (32.853 fraturas de 291.273 pacientes) não
mostrou relação com fratura total, 17 de 21 estudos (2629 fraturas de
329.414 pacientes) não mostrou relação com fratura de fêmur, 7 de 8 estudos
(711 fraturas de 54.140 pacientes) não mostrou relação com fratura de
vértebra e 5 de 7 estudos (1065 fraturas de 65.268 pacientes) não mostrou
relação com fratura de antebraço. No total, 43 de 58 estudos (74%)
demonstraram associação neutra.
No grupo de pacientes com suplementação de cálcio adicional a dieta
(cápsulas ou comprimidos), o risco relativo de fratura total de 0.89 ( IC
0.81-0.96 – P: 0.004 – 20 estudos com 58.573 pacientes); o risco relativo de
fratura de vértebra de 0.86 (IC 0.74-1.0 – P: 0.04 – 12 estudos com 48.967
pacientes); o risco relativo de fratura de fêmur de 0.95 (IC 0.76-1.18 – P:
0.63 – 13 estudos com 56.648 pacientes) e o risco relativo de fratura de
antebraço de 0.96 (IC 0.85-1.09 – P: 0.54 – 8 estudos com 51.775).
Os dados agrupados dos estudos demonstram que o NNT com uso de cálcio
suplementar para prevenir uma fratura de vértebra é de 489 por 6.2 anos e
para prevenir uma fratura de qualquer topografia o NNT é de 77 por 5.5 anos.
Certamente NNT não atrativo para tratamento individualizado e muito menos
atrativo para pacientes com baixo risco de fratura. Não há benefício para
suplementação de cálcio para pacientes com fratura de fêmur, que carreia
maior morbidade e mortalidade em idosos.
Para o uso de suplementação de cálcio em grande escala de forma preventiva
em idosos o benefício é pequeno, mas poderia ser útil se fosse bem tolerado
e seguro. Vários estudos demonstram efeitos colaterais como sintomas
gastrointestinais agudos, litíase renal e constipação intestinal.
Um único estudo francês de mulheres idosas frágeis institucionalizadas
(idade média de 84 anos) com baixa ingesta de cálcio alimentar e vitamina D
baixa (média de 20 nmol L) demonstrou que a ingesta de 1200 mg por dia de
cálcio com 800 UI por dia de vitamina D reduziu fratura de fêmur em 23% e
fratura de qualquer topografia em 17% em 3 anos. Este estudo contrasta com
outros 6 grandes estudos randomizados e controlados com suplementação de
cálcio ou cálcio com vitamina D que não mostraram redução de risco de
fratura de fêmur.
Conclusão - Como vimos o benefício do aumento da ingesta alimentar de cálcio
para atingir os 1.200 mg por dia de cálcio não é associada com redução de
risco de fratura. A suplementação de cálcio tem pequenos benefícios, mas
inconsistentes e que não auxilia na prevenção de fratura de fêmur, que
acarreta em maior morbidade e mortalidade em idosos. Consideração deve se
fazer em pacientes muito idosos, institucionalizados, com baixa ingesta de
cálcio e vitamina D baixa.
Referência:
Calcium intake and risk of fracture: systematic review Mark J Bolland,
William Leung, Vicky Tai, Sonja Bastin, Greg D Gamble, Andrew Grey, Ian R
Reid BMJ 2015;351:h458
Acesse o artigo completo:
http://www.bmj.com/content/bmj/351/bmj.h4580.full.pdf