Entrevista

Decage News - 017 (Setembro/2015)

Validation of risk estratification schemes for predicting stroke and tromboembolism in patients with atrial fibrillation: Nationwide cohort study.

Artigo comentado: Roberto Gamarski (RJ)

Algumas dúvidas ainda surgem em relação ao real benfício da aplicabilidade do CHADSVASC em relação ao CHADS na estratificação de risco tromboembólico em pacientes com FA paroxística, fenômeno habitualmente encontrado em idosos assintomáticos. Na avaliação inicial do EuroHeart survey, o CHADSVASC obteve uma semelhante estatística C em relação ao CHADS, mas foi melhor em identificar os pacientes de real baixo risco e categorizou apenas uma pequena proporção na categoria de risco intermediário.

Neste estudo dinamarquês foram incluídos todos os pacientes com FA ou flutter não valvulares, avaliados no período de 1997-2006, tendo sido estimada a taxa de eventos para tromboembolismo e morte levando-se em consideração ambos os escores acima citados , utilizando-se também da combinação dos fatores de risco individuais contidos nestes escores, resultando em um escore de 1 ou 2. Foi feita uma análise para desfechos em um, cinco e dez anos. Foram então construídas curvas de sobrevida livre de eventos para escores de zero e um, para as duas ferramentas.Observa-se com esta uma nítida diferença do fator idade em relação aos demais fatores de risco em relação à sobrevida livre de eventos.

No escore de (1) um ponto a taxa de eventos por cem pessoas/ano para o CHAD S x CHADSVASC foi de 4,75 e 2,01, respectivamente.

Pacientes classificados como de risco intermediário pelo CHADS tiveram uma significativa maior taxa de eventos tromboembólicos do que aqueles classificados como de risco intermediário pelo CHADSVASC (3,6x1,5), respectivamente; fato este também observado em pacientes tratados com anticoagulantes.

As categorias consideradas como de alto risco( ≥2)dois, por ambos os escores ,tiveram um substancial aumento na taxa de eventos tromboembólicos em relação às categorias de baixo e intermediário risco.

O grupo CHADSVASC de risco baixo e intermediário teve uma mortalidade bem menor do que grupos de baixo e intermediário risco do CHADS.

A variável mais associada ao maior risco no escore de CHADS = 1 foi a idade ≥75 anos e a hipertensão a variável associado ao menor risco e, no CHADSVASC=1 , o diabetes foi associada ao maior risco, seguido da idade de 65-74 anos .

Considerando-se pacientes com CHADSVASC=2 o tromboembolismo prévio foi a variável associada ao maior risco, seguido pela idade ≥75 anos.

Portanto, a habilidade preditiva do CHADSVASC foi claramente superior a do CHADS na categorização em grupos de risco. Em acompanhamento de um, cinco e dez anos, a estatística com o CHADS foi de 0,722/ 0,796 / e 0,812, respectivamente. Para o CHADSVASC foi de 0,845 / 0,877 e 0,885, respectivamente.

Conclusões: Nem todos os fatores de risco compondo o CHADS escore=1 estiveram associados a um risco igual;um risco particularmente superior foi verificado com a idade ≥ 75 anos
Pacientes com um CHADSVASC=1 tiveram uma real baixa taxa de eventos, o que caracterizaria melhor um risco moderado do que o CHADS.
Pacientes com CHADSVASC=0 tiveram um verdadeiro baixo risco.

Neste trabalho a taxa de eventos por 100 pacientes para o CHADSVASC =0 foi de 0,78(0,58a 1,04) em um ano, já para um CHADSVASC =1 por uma idade de 65-74 anos a taxa de eventos foi de 2,88(2,29 a 3,62) e para um CHADSVASC=2 por uma idade≥75 anos a taxa de eventos foi de 4,75(4,14A5,44), taxa esta maior do que a verificada com a combinação dos demais fatores perfazendo um escore CHADSVASC=2 e inferior apenas ao tromboembolismo prévio.

Isto é clinicamente importante, pois muitos pacientes considerados como de baixo ou intermediário risco pelo CHADS não são pacientes de baixo risco verdadeiro, especialmente quando levamos em consideração o fator idade≥75 anos.

Portanto verificamos que uma idade ≥75 anos é um forte preditor da necessidade de anticoagulação em fibrilação atrial paroxística, face ao seu maior risco. Esta é uma orientação que serve para uma população em geral, mas que sempre precisa ser individualizada para o nosso paciente, levando-se em conta riscos e benefícios, especialmente quando nos deparamos com a presença de outras comorbidades capazes de aumentar os riscos em relação aos benefícios.

OlesenJB,Lip GYH,Hansen ML el al.
Validation of risk estratification schemes for predicting stroke and tromboembolism in patients with atrial fibrillation: Nationwide cohort study.
Copenhagen University Hospital. BMJ 2011:342:d124