Esquina Científica
Decage News - 014 (Junho/2015)
Vacinação no Idoso
Elisabeth Vianna de Freitas (RJ)
O perfil populacional está mudando em nível mundial de forma bastante
expressiva. Hoje um brasileiro vive em média 75,2 anos, sendo admitido que
ainda há espaço para novos ganhos nesse indicativo 1.
Por outro lado, apesar desse expressivo número, os idosos apresentam altas
taxas de doenças crônicas (doenças cardiovasculares, câncer, acidente
vascular encefálico, doença vascular periférica, etc.), associando-se à
presença das síndromes geriátricas (alterações cognitivas, quedas,
incontinências, alteração nos órgãos do sentido, etc.) Oitenta porcento dos
indivíduos de 80 anos ou mais sofrem de pelo menos uma doença crônica e 50%
têm pelo menos duas doenças crônicas, tornando-os mais susceptíveis à
complicações, tornando-se necessárias intervenções para a prevenção de
doenças e maximização da qualidade de vida Uptodate 2015.
Entre os procedimentos preventivos encontra-se a imunização caracterizando
uma das medidas de prevenção primária, com um calendário vacinal já bem
estabelecido.
Influenza
A influenza ou gripe é uma doença respiratória aguda, altamente contagiosa,
transmissível por contato direto ou por objetos recentemente contaminados
por secreção nasofaríngea (lenços por exemplo) que apesar de, em geral, ser
benigna, pode ser responsável por surtos epidêmicos, podendo gerar doenças
do aparelho respiratório (pneumonias, bronquites) com expressiva
mortalidade.
Embora seja de crença popular que a gripe é um resfriado comum, é importante
que se tenha em mente a distinção entre essas duas entidades. A gripe é
causada pelo vírus da influenza, é muito contagiosa, podendo gerar epidemias
como já ocorreu no passado. Provoca sintomas como febre alta, dores no corpo
e fraqueza, podendo deixar o paciente de cama por vários dias, enquanto que
o resfriado é causado por vários germens, apresentando sintomas mais brandos
com rápida recuperação. Mais de 90% das mortes e entre 50% e 60% das
internações ocasionadas pelo vírus da influenza ocorrem em pessoas de 65 ou
mais anos, em decorrência da queda de imunidade que ocorre com o
envelhecimento [Centers for Disease Control and Prevention-Vaccines &
Imunizations 2015 (CDC) www.cdc.gov]
É reconhecido que os indivíduos idosos, apresentam maior risco de graves
complicações devido à gripe quando comparadas aos mais jovens. As infecções
do trato respiratório têm sido associadas não só com o aumento das taxas de
pneumonia como também com o aumento de risco de doença cardíaca isquêmica e
acidente vascular encefálico (Kristin).
- Pneumopatas - pneumopatias crônicas, asmáticos e fumantes - apresentam
maior risco de complicações em decorrência de infecções pelo vírus
influenza”. 4
- Cardiopatas - são mais susceptíveis a complicações e óbitos. Atualmente, é
reconhecida com medida de “Prevenção” (evitando o processo inflamatório
associado a infecção viral que aumenta a predisposição à problemas
cardiovasculares).4
- Diabéticos - Maior morbidade associada a gripe e a pneumonia em
diabéticos, tem sido descrita na literatura médica, como o aumento do risco
de hospitalização (6 vezes) e óbito (3 vezes) 4.
Há três tipos de vírus antigenicamente distintos: A, B e C, sendo seus
reservatórios
(Tabela 1):
A especificação do vírus com as letras H e N, significa H: hemaglutinina,
infecta a célula onde se multiplica, N: neuraminidase, facilita a saída das
partículas virais do interior das células infectadas. A forma de
apresentação do vírus é feita com a seguinte sequência:
Esta sequência, exemplificada por A Moscou 21 99 H3N2, nos dá as
características da composição da vacina.
A vacina deve ser aplicado em dose única anual, recomendada para todos os
idosos maiores de 60 anos. É disponibilizada pelo governo em campanha anual
no outono período que antecede o inverno, quando ocorre o máximo de
circulação do vírus, tendo validade por 12 meses.
A VACINA é uma suspensão de antígenos do vírus da gripe, constituída por
diferentes cepas de Mixovirus influenzae – Inativados, fracionados pelo
formaldeído, purificados e cultivados em embriões de galinha. Sua composição
é atualizada de acordo com as recomendações da OMS baseadas no CDC, em
estudos epidemiológicos em vários centros do mundo.
A vacina pode ser administrada concomitantemente com outras vacinas, não
devendo ser aplicada no mesmo local. Pessoas febris, entre 370 C e 37,500 C.
É bom chamar atenção para o fato de que pacientes em tratamento com
imunopressores ou radioterapia podem anular a resposta de imunidade da
vacina.
De acordo com levantamentos realizados, 90% das pessoas que recebem a vacina
não apresentam nenhum tipo de reação. Os restantes 10% podem referir dor no
corpo, febre, braço dolorido, dor de cabeça, gripe, tontura e cansaço.
Pacientes que vivem em casas geriátricas devem receber a vacina bem como
todo o pessoal que trabalha em contato com os residentes, o que oferece
proteção indireta por menor exposição.
Vacina Pneumocócica
A doença pneumocócica é uma significante causa de morbi/mortalidade em
idosos, com aumento na incidência e na mortalidade mais expressiva após os
65 anos.
Estão disponíveis a vacina pneumocócica 23 valente (VPP23) e a pneumocócica
13-valente (conjugada).
A recomendação feita pala ACIP (Advisory Committee on Imunization Practices),
revisada em 2014, recomenda que ambas as vacinas devem ser dadas
sequencialmente para todos os adultos com idade igual ou superior a 65 anos.
Para os que receberam a VPP23 é recomendado um intervalo de um ano para a
aplicação da VPC13 e de cinco anos para a aplicação da segunda dose de
VPP23, com intervalo mínimo de dois meses entre elas. Aqueles que já
receberam duas doses de VPP23, é recomendado uma dose de VPC13, com
intervalo mínimo de um ano após a última dose de VPP23. Se a segunda dose de
VPP23 foi aplicada antes dos 65 anos, está recomendada uma terceira dose
depois dessa idade, com intervalo mínimo de cinco anos da última dose.
A VPP23 existe disponível na rede pública. A VPC13 existe disponível nas
clínicas privadas de vacinação.
Apesar das recomendações a efetividade da vacina pneumocócica permanece
controversa. Alguns trabalhos referem que a efetividade da vacina
pneumocócica em prevenir a infecção pneumocócica em idosos imunocompetentes
se aproxima da efetividade da população em geral.
Vacina de Herpes-zóster
O Herpes-zóster ocorre em função da reativação do vírus da varicela,
causando dor, em geral, de grande intensidade na região da erupção. As
sequelas, que incluem neuralgia pós-herpética, encefalite, mielite,
paralisia de nervos cranianos e periféricos, ocorrem mais frequentemente em
idosos. Cerca de 30% dos indivíduos são afetados durante a vida pelo
Herpes-zóster, com um aumento de 8 a 10 vezes mais nos idosos. (Uptodate
2015). A vacina encontra-se disponível nos EEUU desde 2006 para indivíduos
acima de 60 anos e em 2011 para aqueles com idade igual ou superior a 50
anos. No Brasil encontra-se disponível desde 2014.
A vacina é recomendada mesmo para aqueles que já tiveram a doença, devendo
ser respeitado um intervalo de 1 ano entre o quadro agudo e a aplicação da
vacina. A vacina é contraindicada em imunodeprimidos.
É recomendada em dose única e encontra-se disponível somente em clínicas
privadas de vacinação.
Outras condições
Ainda rotineiramente deve ser recomendada a vacina tríplice difteria,
tríplice e coqueluche, mesmo nos indivíduos que receberam uma dose da dTpa
Referências
1. Camarano AA. In: Novo Regime Demográfico uma nova relação entre
população e desenvolvimento, 2014; pag 15.
2. Centers for Disease Control and Prevention-Vaccines & Imunizations 2015
(CDC) www.cdc.gov
3. Kristin L. Nichol, M.D., M.P.H., M.B.A., James Nordin, M.D., M.P.H., John
Mullooly, Ph.D., Richard Lask, M.D., Kelly Fillbrandt, B.S., and Marika
Iwane, PhD. N Influenza Vaccination and Reduction in Hospitalizations for
Cardiac Disease and Stroke among the Elderly. Engl J Med 2003;
348:1322-1332.
4. Neuzil KM et al. Recognizing influenza in older patients with chronic
obstrutive pulmonary disease who have received influenza vaccine. Clin
Infect Dis 2003;36:169-174.