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Decage News - 008 (Dezembro/2014)

Atividade Física e Variabilidade da Frequência Cardíaca em Idosos
Ismael Polli – RS

O sistema nervoso autônomo exerce uma importante função na manutenção do equilíbrio do sistema cardiovascular. Barorreceptores e quimiorreceptores localizados no coração e na circulação periférica, bem como receptores atriais e ventriculares, detectam prontamente alterações hemodinâmicas no sistema cardiovascular determinando ações do sistema nervoso autônomo que objetivam a adaptação e o retorno a homeostase.1
Esse controle neuronal está intimamente ligado à frequência cardíaca e a atividade barorreceptora reflexa. Na presença de ritmo sinusal, o sistema nervoso autônomo é o principal regulador da frequência cardíaca.
 
Uma medida simples e prática para a mensuração da atividade do sistema nervoso autônomo é a variabilidade da frequência cardíaca (VFC), que pode ser obtida através de índices obtidos em um exame de holter, por exemplo. A mensuração da VFC nos indica a flutuação entre os intervalos RR, refletindo essa complexa interação entre as vias simpática e parassimpática e nos fornecendo dados sobre o controle autonômico.

A redução da VFC tem sido apontada como importante indicador de risco de eventos cardiovasculares em indivíduos normais e em portadores de uma grande variedade de doenças, refletindo o papel vital que o SNA desempenha sobre a manutenção da saúde2. Diversos estudos demonstraram índices de VFC reduzidos em pacientes portadores de hipertensão arterial, infarto do miocárdio prévio, doença arterial coronariana estável e aterosclerose3. Índices de VFC baixos (SDNN<50) medidos precocemente após o IAM (dentro de 14 dias) se associaram a um risco três a quatro vezes maior de mortalidade em 3 anos4,5.

O processo de envelhecimento, costumeiramente causa uma depleção do tônus vagal e consequente aumento da atividade simpática, reduzindo a VFC. Essa redução pode ser melhor observada em mulheres idosas, devido também a depressão dos níveis hormonais de estrogênio ocorrida na menopausa6.

Por outro lado, a prática regular de atividade física tem sido referida como um fator de incremento no tônus vagal devido às adaptações fisiológicas ocorridas pelo aumento do trabalho cardíaco, uma vez que há uma redução da sensibilidade dos receptores beta. Assim, a elevação da modulação parassimpática induz uma estabilidade elétrica do coração, ao passo que a atividade simpática elevada aumenta a vulnerabilidade do coração e o risco de eventos cardiovasculares.

Estudo recente, publicado no Circulation7, que avaliou indivíduos idosos (média de idade 71 anos), demonstrou que a prática regular de atividades físicas foi tanto transversalmente como longitudinalmente associada a índices específicos mais favoráveis de VFC. Ao longo de 5 anos, aqueles que aumentaram seu ritmo de caminhada ou a distância percorrida tiveram índices de VFC mais favoráveis quando comparados com aqueles que diminuíram seu ritmo de caminhada ou a distância percorrida.

Esses resultados corroboram o fato de que a prática de atividade física mantida é benéfica em qualquer idade, pois além das inúmeras vantagens já conhecidas, provoca também adaptações fisiológicas benéficas importantes sobre o sistema nervoso autônomo.

1. Cooke WH, Cox JF, Diedrich AM, Taylor JA, Beightol LA, Ames JE 4th, et al. Controlled breathing protocols probe human autonomic cardiovascular rhythms. Am J Physiol. 1998; 274(2 Pt 2):H709-18.
2. Pumprla J, Howorka K, Groves D, Chester M, Nolan J. Functional assessment of heart rate variability: physiological basis and practical applications. Int J Cardiol. 2002; 84(1):1-14.
3. Carnethon MR, Liao D, Evans GW, Cascio WE, Chambless LE, Heiss G. Correlates of the shift in heart rate variability with an active postural change in a health population sample: The Atherosclerosis Risk In Communities study. Am Heart J. 2002;143(5):808-13.
4. Kleiger RE, Miller JP, Bigger JT Jr, Moss AJ. Decreased heart rate variability and its association with increased mortality after acute myocardial infarction. Am J Cardiol 1987; 59:256.
5. Buccelletti E, Gilardi E, Scaini E, et al. Heart rate variability and myocardial infarction: systematic literature review and metanalysis. Eur Rev Med Pharmacol Sci 2009; 13:299.
6. Paschoal MA, Volanti VM, Pires CS, Fernandes FC. Variabilidade de frequência cardíaca em diferentes faixas etárias. Rev Bras Fisioter. 2006;10(4):413-9.
7. Soares-Miranda L, Sattelmair J, Chaves P, Duncan GE, Siscovick DS, Stein PK, Mozaffarian D. Physical activity and heart rate variability in older adults: the Cardiovascular Health Study. Circulation. 2014 May 27;129(21):2100-10.