Esquina Científica
Decage News - 003 (Junho/2014)
Alvos de Controle da Hipertensão no idoso: impacto das
novas diretrizes
Jairo Lins Borges (SP) - Departamento de Cardiologia da UNIFESP. Divisão de
Cardiogeriatria
A partir de meados de 2013, três novas diretrizes internacionais sobre
hipertensão arterial sistêmica (HAS) foram publicadas: o tão esperado JNC-8
norte-americano, um documento conjunto da Sociedade Internacional de
Hipertensão e da Associação Americana de Hipertensão (ISH/ASH) e a análise
das Sociedades europeias de cardiologia e de hipertensão (ESC/ESH).
Diversas modificações foram introduzidas por esses documentos, visando
simplificar os objetivos do tratamento da HAS, o que é absolutamente
louvável. Por exemplo, na maioria dos casos, incluindo diabetes e
insuficiência renal, o alvo de controle da HAS passou a ser < 140/90 mmHg,
eliminando em boa hora a busca implacável por metas extremamente rigorosas
(< 130/80 mmHg) sem evidência científica consistente para tal, que submetia
pacientes e médicos a um exercício fratricida e inglório de promoção de
polifarmácia com todos os inconvenientes adicionais que implica, sobretudo
em termos de reações adversas, por vezes graves, aos fármacos. O idoso é, de
longe, o subgrupo populacional que mais utiliza medicamentos e, não por
acaso, é também o que mais necessita de atendimento médico de urgência e de
internações hospitalares devido ao uso excessivo de medicamentos.
Para idosos saudáveis, com idade abaixo de 80 anos, foi proposto pelas
diretrizes da ESC/ESH e da ISH/ASH, o alvo < 140/90 mmHg, seguindo o que foi
proposto também para populações mais jovens, a partir da idade de 20 anos.
No entanto, para os subgrupos populacionais a partir da idade de 80 anos,
desde que também sejam considerados saudáveis, foi reservado o alvo < 150/90
mmHg, levando em consideração, principalmente, os achados específicos do
estudo HYVET.
O ponto fora da curva nessa trinca de diretrizes ficou por conta do JNC-8,
que propôs o alvo abaixo de 150 mmHg para a pressão arterial sistólica de
pacientes com idade acima de 60 anos. Ora, é exatamente a partir da idade de
65 anos que o risco cardiovascular (CV) da HAS se mostra mais pronunciado.
Análises epidemiológicas do CDC norte-americano mostraram que a mortalidade
por doença coronária de hipertensos abaixo de 65 anos de idade é de 30 por
100 mil pessoas, ao passo que acima dessa faixa etária, é de 1038 por 100
mil pessoas, ou seja, um índice quase 35 vezes maior. Paralelamente, o
acidente vascular cerebral, complicação muito frequente da HAS, tem
mortalidade de 7 por 100 mil pessoas no subgrupo abaixo de 65 anos e de
356/100 mil pessoas naquele acima de 65 anos de idade, ou seja, 50 vezes
maior.
Desse modo, de nosso ponto de vista, a posição das diretrizes da ESC/ESH e
da ASH/ISH, é a mais racional e também a que melhor se aplica à população de
idosos hipertensos brasileiros. Insatisfeitas com o JNC-8, as principais
associações de cardiologia dos Estados Unidos (American Heart Associaton e
American College of Cardiology) anunciaram novas diretrizes conjuntas sobre
HAS para 2015, por não concordarem com as teses aparentemente radicais do
JNC-8, cujos autores optaram por utilizar apenas evidências muito rígidas na
preparação desse documento oficial, atraindo com isso uma chuva de críticas
pesadas tanto da comunidade científica internacional como norte-americana.
De todo modo, em relação ao ponto principal da abordagem da HAS, ou seja, a
simplificação do diagnóstico e a definição das metas terapêuticas, os três
documentos convergiram para um denominador comum inegavelmente digno de
elogios, e isso deverá contribuir para que mais e mais hipertensos possam
ser adequadamente conduzidos na prática clínica e alcancem os objetivos do
tratamento, com redução significativa consequente das graves complicações CV
e renais da HAS, sobretudo entre as maiores vítimas da hipertensão na
população, ou seja, os idosos.
Referências bibliográficas
1. Clinical Practice Guidelines for the Management of Hypertension in the
Community. A Statement by the American Society of Hypertension and the
International Society of Hypertension. J Hypertens 2014; 32: 3-15.
2. 2013 ESH/ESC Guidelines for the management of arterial hypertension: the
Task Force for the management of arterial hypertension of the European
Society of Hypertension (ESH) and of the European Society of Cardiology (ESC).
J Hypertens 2013; 31: 1281-1357
3. 2014 Evidence-Based Guideline for the Management of High Blood Pressure
in Adults. Report From the Panel Members Appointed to the Eighth Joint
National Committee (JNC 8). JAMA. doi:10.1001/jama.2013.284427. Published
online December 18, 2013