Coluna


Prolapso da valva mitral. Cardiopatia ou Cardiomania?

Você sente uma ansiedade, o coração dispara, até parece que ele vai sair pela boca, o peito aperta, as mãos ficam frias e úmidas, o fôlego fica curto. Você vai ao médico pensando no pior, mas ele lhe acalma e diz que o que você tem é "apenas" um prolapso da valva mitral, não tem perigo e a vida pode prosseguir normal.

Esta cena repete-se no mundo todo, sabe-se que pelo menos 5% da população tem prolapso da válvula mitral. Isto quer dizer no próximo jogo do Corinthians com o São Paulo entre os 60 000 fanáticos por futebol estarão presentes no estádio uns 3000 prolapsos da valva mitral, quem sabe, seus portadores sentindo o coração se manifestar a cada perigo de gol do adversário.

A maioria dos casos de prolapso da válvula mitral não precisa de um tratamento cardiológico específico, o acompanhamento de milhares de casos em vários países, inclusive no Brasil, comprova o seu caráter fundamentalmente benigno.

Tudo parece ter começado quando o estado da Carolina do Sul pretendeu se separar do resto dos Estados Unidos da América, então sob a presidência do famoso Abraham Lincoln; vários soldados jovens manifestaram sintomas cardíacos acompanhados de grande sensação de angústia. Na primeira grande guerra mundial, muitos soldados apresentavam taquicardia, dor no peito e fadiga e a situação ficou conhecida como "coração de soldado". Já era o tal do prolapso da valva mitral.

O que acontece é que o cenário mudou dos campos de batalha para a verdadeira guerra urbana que é o dia-a-dia de todos nós. Por isso é que se diz que a manifestação do prolapso da valva mitral está muito ligada ao estresse.

E porque o coração? Porque o coração carrega um grande simbolismo afetivo e assim poderia servir como instrumento de linguagem para expressar dificuldades e conflitos emocionais- o coração funciona como o órgão de choque. Prolapso da valva mitral e emoções podem ser vistos, portanto, de modo integrado.

Há os que relutam em fazer uma consulta médica e preferem dar um tempo para decidir se irão ou não ao médico. Há os que, ao contrário, querem esclarecer de imediato.

Qualquer que seja o seu caso, a palavra do médico é sempre útil, não somente para definir o que está acontecendo, como também para orientar sobre certos hábitos de vida que poderiam ser repensados e assim beneficiar a qualidade de vida que está sendo prejudicada pela sucessão de episódios associados ao prolapso da valva mitral.

O trabalho conjunto e bilateralmente ativo entre médico e portador de prolapso da valva mitral continua sendo o melhor remédio para que a eventual sensação cardíaca ligada ao prolapso benigno da valva mitral não acarrete indevidamente a impressão de doença.

Em outras palavras, a boa relação médico-paciente é o melhor remédio para evitar que o temor de doença no coração provocado pelo prolapso da valva mitral transforme-se numa verdadeira cardiomania.

Nabil Ghorayeb
nghorayeb@terra.com.br