Capítulo 5
Tratamento Medicamentoso
Objetivos
O objetivo primordial do tratamento da hipertensão
arterial é a redução da morbidade e da mortalidade
cardiovasculares do paciente hipertenso, aumentadas em
decorrência dos altos níveis tensionais, sendo utilizadas
tanto medidas não-medicamentosas isoladas como associadas a
medicamentos anti-hipertensivos.
Assim, os agentes anti-hipertensivos a serem utilizados no
tratamento do paciente hipertenso devem permitir não somente
a redução dos níveis tensionais, mas também a redução da
taxa de eventos mórbidos cardiovasculares fatais e
não-fatais.
Até o presente momento, a redução da morbidade e da
mortalidade cardiovasculares em hipertensos leves a moderados
foi demonstrada de forma consistente, em inúmeros estudos,
apenas para os diuréticos e betabloqueadores.
Em relação à pressão arterial, o tratamento
medicamentoso visa a reduzir os níveis de pressão para
valores inferiores a 140 mmHg de pressão sistólica e a 90
mmHg de pressão diastólica, respeitando-se as
características individuais, a co-morbidade e a qualidade de
vida dos pacientes. Reduções da pressão para níveis
inferiores a 130/85 mmHg podem ser úteis em situações
específicas, como em pacientes com nefropatia proteinúrica e
na prevenção de acidente vascular cerebral.
Princípios Gerais do Tratamento Medicamentoso
Depois de decidido o tratamento medicamentoso, devem-se
observar os critérios relacionados no Quadro 16.
Quadro 16. Tratamento medicamentoso: princípios gerais.
O medicamento deve ser eficaz por via oral
Deve ser bem tolerado
Deve permitir a administração do menor número
possível de tomadas diárias, com preferência para aqueles
com posologia de dose única diária
O tratamento deve ser iniciado com as menores
doses efetivas preconizadas para cada situação clínica,
podendo ser aumentadas gradativamente e/ou associar-se a outro
hipotensor de classe farmacológica diferente (deve-se levar
em conta que quanto maior a dose, maiores são as
probabilidades de surgirem efeitos indesejáveis)
Respeitar um período mínimo de 4 semanas para
se proceder o aumento da dose e ou a associação de drogas,
salvo em situações especiais
Instruir o paciente sobre a doença, sobre os
efeitos colaterais dos medicamentos utilizados e sobre a
planificação e os objetivos terapêuticos
Considerar as condições socioeconômicas
Escolha do Medicamento Anti-Hipertensivo
Os medicamentos anti-hipertensivos de uso corrente em
nosso meio podem ser divididos em 6 grupos, apresentados no
Quadro 17.
Quadro 17. Classes de anti-hipertensivos.
Diuréticos
Inibidores adrenérgicos
Vasodilatadores diretos
Inibidores da enzima conversora da angiotensina
Antagonistas dos canais de cálcio
Antagonistas do receptor da angiotensina II
Qualquer grupo de medicamentos, com exceção dos
vasodilatadores de ação direta, pode ser apropriado para o
controle da pressão arterial em monoterapia inicial,
especialmente para pacientes portadores de hipertensão
arterial leve a moderada, que não responderam às medidas
não-medicamentosas. Sua escolha deverá ser pautada nos
princípios gerais descritos anteriormente.
Além do controle da pressão arterial, já mencionado, os
anti-hipertensivos também devem ser capazes de reduzir a
morbidade e a mortalidade cardiovasculares dos hipertensos.
Essa capacidade, já demonstrada para diuréticos e
betabloqueadores, também foi observada, recentemente, em um
estudo (Syst-Eur) com pacientes idosos portadores de
hipertensão arterial sistólica isolada tratados com
nitrendipina, um antagonista dos canais de cálcio
diidropiridínico, isoladamente ou em associação com o
inibidor da ECA enalapril.
Estão sendo realizados vários estudos com inibidores da
ECA e antagonistas do receptor da angiotensina II e com outros
antagonistas dos canais de cálcio, para avaliar o impacto
dessas drogas sobre a morbidade e a mortalidade
cardiovasculares dos hipertensos. Entretanto, até o presente
momento não existem dados que permitam avaliar a capacidade
de essas classes terapêuticas influenciar esses parâmetros.
Diuréticos
O mecanismo anti-hipertensivo dos diuréticos está
relacionado, numa primeira fase, à depleção de volume e, a
seguir, à redução da resistência vascular periférica
decorrente de mecanismos diversos.
São eficazes como monoterapia no tratamento da
hipertensão arterial, tendo sido comprovada sua eficácia na
redução da morbidade e da mortalidade cardiovasculares. Como
anti-hipertensivos, dá-se preferência aos diuréticos
tiazídicos e similares. Diuréticos de alça são reservados
para situações de hipertensão associada a insuficiências
renal e cardíaca.
Os diuréticos poupadores de potássio apresentam pequena
potência diurética, mas quando associados a tiazídicos e
diuréticos de alça são úteis na prevenção e no
tratamento de hipopotassemia. O uso de diuréticos poupadores
de potássio em pacientes com redução de função renal pode
acarretar hiperpotassemia.
Entre os efeitos indesejáveis dos diuréticos, ressalta-se
fundamentalmente a hipopotassemia, por vezes acompanhada de
hipomagnesemia (que pode induzir arritmias ventriculares), e a
hiperuricemia. É ainda relevante o fato de os diuréticos
poderem provocar intolerância à glicose. Podem também
promover aumento dos níveis séricos de triglicerídeos, em
geral dependente da dose, transitório e de importância
clínica ainda não comprovada. Em muitos casos, provocam
disfunção sexual. Em geral, o aparecimento dos efeitos
indesejáveis dos diuréticos está relacionado à dosagem
utilizada.
Inibidores adrenérgicos
a) Ação central
Atuam estimulando os receptores alfa-2-adrenérgicos
pré-sinápticos (alfametildopa, clonidina e guanabenzo) e/ou
os receptores imidazolidínicos (moxonidina) no sistema
nervoso central, reduzindo a descarga simpática. A eficácia
anti-hipertensiva desse grupo de medicamentos como monoterapia
é, em geral, discreta. Até o presente momento, não existe
experiência clínica suficiente em nosso meio com o inibidor
dos receptores imidazolidínicos. Essas drogas podem ser
úteis em associação com medicamentos de outras classes
terapêuticas, particularmente quando existem evidências de
hiperatividade simpática.
Entre os efeitos indesejáveis, destacam-se aqueles
decorrentes da ação central, como sonolência, sedação,
boca seca, fadiga, hipotensão postural e impotência.
Especificamente com a alfametildopa, pode ocorrer ainda, com
pequena freqüência, galactorréia, anemia hemolítica e
lesão hepática. O emprego da alfametildopa é
contra-indicado na presença de disfunção hepática. No caso
da clonidina, destaca-se a hipertensão rebote, quando da
suspensão brusca da medicação.
b) Alfa-1 bloqueadores
Apresentam baixa eficácia como monoterapia, devendo ser
utilizados em associação com outros anti-hipertensivos.
Podem induzir o aparecimento de tolerância farmacológica,
que obriga o uso de doses crescentes. Têm a vantagem de
propiciar melhora do metabolismo lipídico (discreta) e da
urodinâmica (sintomas) de pacientes com hipertrofia
prostática. Os efeitos indesejáveis mais comuns são:
hipotensão postural (mais evidente com a primeira dose),
palpitação e, eventualmente, astenia.
c) Betabloqueadores
O mecanismo anti-hipertensivo, complexo, envolve diminuição
do débito cardíaco (ação inicial), redução da secreção
de renina, readaptação dos barorreceptores e diminuição
das catecolaminas nas sinapses nervosas. Esses medicamentos
são eficazes como monoterapia, tendo sido comprovada sua
eficácia na redução da morbidade e da mortalidade
cardiovasculares. Aqueles com atividade simpatomimética
intrínseca são úteis em gestantes hipertensas e em
pacientes com feocromocitoma. Constituem a primeira opção na
hipertensão arterial associada a doença coronariana ou
arritmias cardíacas. São úteis em pacientes com síndrome
de cefaléia de origem vascular (enxaqueca). Entre as
reações indesejáveis dos betabloqueadores destacam-se:
broncoespasmo, bradicardia excessiva (inferior a 50 bat/min),
distúrbios da condução atrioventricular, depressão
miocárdica, vasoconstrição periférica, insônia,
pesadelos, depressão psíquica, astenia e disfunção sexual.
Do ponto de vista metabólico, podem acarretar intolerância
à glicose, hipertrigliceridemia e redução do
HDL-colesterol. A importância clínica das alterações
lipídicas induzidas pelos betabloqueadores ainda não está
comprovada. A suspensão brusca desses bloqueadores pode
provocar hiperatividade simpática, com hipertensão rebote
e/ou manifestações de isquemia miocárdica. Os
betabloqueadores são formalmente contra-indicados em
pacientes com asma, doença pulmonar obstrutiva crônica e
bloqueio atrioventricular de 2o e 3o
graus. Devem ser utilizados com cautela em pacientes com
doença arterial obstrutiva periférica.
Vasodilatadores diretos
Os medicamentos desse grupo, como a hidralazina e o
minoxidil, atuam diretamente sobre a musculatura da parede
vascular, promovendo relaxamento muscular com conseqüente
vasodilatação e redução da resistência vascular
periférica. Em conseqüência da vasodilatação arterial
direta, promovem retenção hídrica e taquicardia reflexa, o
que contra-indica seu uso como monoterapia, devendo ser
utilizados associados a diuréticos e/ou betabloqueadores.
Antagonistas dos canais de cálcio
A ação anti-hipertensiva dos antagonistas dos canais de
cálcio decorre da redução da resistência vascular
periférica por diminuição da concentração de cálcio nas
células musculares lisas vasculares. Não obstante o
mecanismo final comum, esse grupo de anti-hipertensivos é
dividido em 4 subgrupos, com características químicas e
farmacológicas diferentes: fenilalquilaminas (verapamil),
benzotiazepinas (diltiazem), diidropiridinas (nifedipina,
isradipina, nitrendipina, felodipina, amlodipina, nisoldipina,
lacidipina) e antagonistas do canal T (mibefradil).
São medicamentos eficazes como monoterapia, e a
nitrendipina mostrou-se também eficiente na redução da
morbidade e da mortalidade cardiovasculares em idosos com
hipertensão sistólica isolada.
No tratamento da hipertensão arterial, deve-se dar
preferência ao uso dos antagonistas dos canais de cálcio de
longa duração de ação (intrínseca ou por formulação
galênica), não sendo recomendada a utilização de
antagonistas dos canais de cálcio de curta duração de
ação.
Os efeitos adversos desse grupo incluem: cefaléia,
tontura, rubor facial (mais freqüentes com diidropiridínicos
de curta duração de ação) e edema periférico. Mais
raramente, podem induzir hipertrofia gengival. Os
diidropiridínicos de curta duração de ação acarretam
importante estimulação simpática reflexa, deletéria ao
sistema cardiovascular. Verapamil e diltiazem podem provocar
depressão miocárdica e bloqueio atrioventricular.
Bradicardia excessiva também tem sido relatada com essas duas
drogas e com o mibefradil especialmente quando utilizados em
associação com betabloqueadores. Obstipação intestinal é
um efeito indesejável observado principalmente com verapamil.
Inibidores da enzima conversora da angiotensina
O mecanismo de ação dessas substâncias é
fundamentalmente dependente da inibição da enzima
conversora, bloqueando, assim, a transformação da
angiotensina I em II no sangue e nos tecidos. São eficazes
como monoterapia no tratamento da hipertensão arterial.
Também reduzem a morbidade e a mortalidade de pacientes
hipertensos com insuficiência cardíaca, e de pacientes com
infarto agudo do miocárdio, especialmente daqueles com baixa
fração de ejeção. Quando administrados a longo prazo, os
inibidores da ECA retardam o declínio da função renal em
pacientes com nefropatia diabética e de outras etiologias.
Entre os efeitos indesejáveis, destacam-se tosse seca,
alteração do paladar e reações de hipersensibilidade
(erupção cutânea, edema angioneurótico). Em indivíduos
com insuficiência renal crônica, podem induzir
hiperpotassemia. Em pacientes com hipertensão renovascular
bilateral ou com rim único, podem promover redução da
filtração glomerular com aumento dos níveis séricos de
uréia e creatinina.
Seu uso em pacientes com função renal reduzida pode se
acompanhar de aumento dos níveis séricos de creatinina.
Entretanto, a longo prazo, prepondera o efeito nefroprotetor
dessas drogas.
Em associação com diurético, a ação anti-hipertensiva
dos inibidores da ECA é magnificada, podendo ocorrer
hipotensão postural.
Seu uso é contra-indicado na gravidez. Em adolescentes e
mulheres jovens em idade fértil e que não façam uso de
método anticoncepcional medicamente aceitável, o emprego dos
inibidores da ECA deve ser cauteloso devido ao risco de
malformações fetais.
Antagonistas do receptor da angiotensina II
Essas drogas antagonizam a ação da angiotensina II por
meio do bloqueio específico de seus receptores AT-1. São
eficazes como monoterapia no tratamento do paciente
hipertenso. Em um estudo (ELITE), mostraram-se eficazes na
redução da morbidade e da mortalidade de pacientes idosos
com insuficiência cardíaca.
Apresentam bom perfil de tolerabilidade e os efeitos
colaterais relatados são tontura e, raramente, reação de
hipersensibilidade cutânea ("rash").
As precauções para seu uso são semelhantes às descritas
para os inibidores da ECA.
Tabela VI. Agentes anti-hipertensivos disponíveis no
Brasil.
de Medicamentos
tomadas/dia - |
Posologia (mg)
Mínima |
Posologia (mg)
Máxima |
Número |
Diuréticos |
|
|
|
Tiazídicos |
|
|
|
- Clortalidona |
12,5 |
25 |
1 |
- Hidroclorotiazida |
12,5 |
50 |
1 |
- Indapamida |
2,5 |
5 |
1 |
De alça |
|
|
|
- Bumetamida |
0,5 |
** |
1-2 |
- Furosemida |
20 |
** |
1-2 |
- Piretanida |
6 |
12 |
1 |
Poupadores de potássio |
2,5 |
5 |
1 |
- Amilorida (em
associação) |
2,5 |
5 |
1 |
- Espironolactona |
50 |
100 |
1-3 |
- Triantereno (em
associação) |
50 |
150 |
1 |
Inibidores adrenérgicos |
|
|
|
Ação central |
|
|
|
- Alfametildopa |
250 |
1.500 |
2-3 |
- Clonidina |
0,1 |
0,6 |
2-3 |
- Guanabenzo |
4 |
12 |
2-3 |
- Moxonidina |
0,2 |
0,4 |
1 |
Alfa-1 bloqueadores |
|
|
|
- Doxazosina (urodinâmica) |
2 |
4 |
2-3 |
- Prazosina |
1 |
10 |
2-3 |
Betabloqueadores |
|
|
|
- Atenolol |
25 |
100 |
1-2 |
- Bisoprolol (em
associação) |
2,5 |
10 |
1-2 |
- Metoprolol 50 |
50 |
200 |
1-2 |
- Nadolol |
20 |
80 |
1-2 |
- Propranolol |
40 |
240 |
2-3 |
- Pindolol (com ASI) |
5 |
20 |
1-3 |
Vasodilatadores diretos |
|
|
|
Hidralazina |
50 |
200 |
2-3 |
Minoxidil |
2,5 |
40 |
2-3 |
Tabela VI. Agentes anti-hipertensivos disponíveis no
Brasil.
(continuação)
de
Medicamentos
tomadas/dia
|
Posologia
Mínima
|
|
Número
Máxima
|
Número |
Antagonistas dos canais de
cálcio |
|
|
|
|
|
Antagonistas do canal L |
|
|
|
|
|
Fenilalquilaminas |
|
|
|
|
|
- Verapamil Coer* |
120 |
|
360 |
1 |
|
- Veraparnil Retard* |
120 |
|
480 |
1-2 |
|
Benzotiazepinas |
|
|
|
|
|
- Diltiazem SR* ou CD* |
120 |
|
360 |
1-2 |
|
Diidropiridinas |
|
|
|
|
|
- Arnlodipina |
2,5 |
|
10 |
1 |
|
- Felodipina |
5 |
|
20 |
1 |
|
- - Isradipina |
2,5 |
|
10 |
2 |
|
- Lacidipina |
4 |
|
8 |
1-2 |
|
- Nifedipina Oros* |
30 |
|
60 |
1 |
|
- Nifedipina Retard* |
20 |
|
40 |
1-2 |
|
- Nisoldipina |
10 |
|
30 |
1 |
|
- Nitrendipina |
20 |
|
40 |
2-3 |
|
Anta2onistas do canal T |
|
|
|
|
|
Derivado do tetralol |
|
|
|
|
|
- Mibefradil |
50 |
|
100 |
1 |
|
Inibidores da
enzima conversora da angiotensina |
|
|
|
Benazepril |
5 |
|
20 |
1-2 |
|
Captopril |
25 |
|
150 |
2-3 |
|
Cilazapril |
2,5 |
|
5 |
1-2 |
|
Enalapril |
5 |
|
40 |
1-2 |
|
Fosinopril |
10 |
|
20 |
1-2 |
|
Lisinopril |
5 |
|
20 |
1-2 |
|
Perindopril |
4 |
|
8 |
1-2 |
|
Ramipril |
2,5 |
|
10 |
1-2 |
|
Trandolapril |
2 |
|
4 |
1 |
|
Antagonistas do
receptor de angiotensina II |
|
|
|
|
Candesartan |
4 |
|
16 |
1 |
|
Eprosartan |
400 |
|
800 |
1 |
|
Irbesartan |
75 |
|
300 |
1 |
|
Losartan |
50 |
|
100 |
1 |
|
Valsartan |
80 |
|
160 |
1 |
|
* Retard, SR, CD, Coer, Oros — Referem-se a preparações
farmacêuticas de liberação lenta — ação prolongada.
** Variável — de acordo com a indicação clínica.
ASI – Atividade Simpatomimética Intrínseca
Esquemas Terapêuticos
Os medicamentos preferenciais para o controle da
pressão arterial em monoterapia inicial são diuréticos,
betabloqueadores, antagonistas dos canais de cálcio,
inibidores da enzima conversora da angiotensina e antagonistas
do receptor da angiotensina II.
O tratamento deve ser individualizado e a escolha inicial
do medicamento como monoterapia deve basear-se no mecanismo
fisiopatogênico predominante, nas características
individuais, nas doenças associadas, nas condições
socioeconômicas e na capacidade de o medicamento influir
sobre a morbidade e a mortalidade cardiovasculares.
A dose do medicamento como monoterapia deve ser ajustada
até que se consiga redução da pressão arterial a um nível
considerado satisfatório para cada paciente (em geral,
inferior a 140/90 mmHg). O ajuste deve ser feito buscando-se a
menor dose eficaz, ou até que surjam efeitos indesejáveis.
Se o objetivo terapêutico não for conseguido com a
monoterapia inicial, são possíveis três condutas:
a) Se o efeito for parcial ou nulo e sem reação adversa,
recomenda-se o aumento da dose do medicamento escolhido para
monoterapia inicial ou a associação com medicamento de outra
classe terapêutica.
b) Quando não ocorrer efeito na dose máxima preconizada, ou
se surgirem efeitos indesejáveis, recomenda-se a
substituição da droga em monoterapia.
c) Se, ainda assim, a resposta for inadequada, devem-se
associar duas ou mais drogas.
Finalmente, como já foi mencionado, os esquemas
terapêuticos instituídos devem procurar conservar a
qualidade de vida do paciente, resultando em melhor adesão
às recomendações médicas.
Algumas indicações específicas para certos
anti-hipertensivos estão contidas no capítulo do tratamento
da hipertensão arterial em situações especiais
As medidas não-medicamentosas devem ser sempre
preconizadas e sua indicação detalhada já foi descrita em
capítulo específico. Após longo período de controle da
pressão, pode ser tentada, criteriosamente, a redução
progressiva das doses dos medicamentos em uso.
Fuxograma para o tratamento medicamentoso da hipertensão
arterial
Monoterapia inicial
Diuréticos
Betabloqueadores
Antagonistas dos canais de cálcio
Inibidores da enzima conversora da angiotensina
Antagonistas do receptor da angiotensina II
Resposta inadequada ou efeitos adversos
Aumentar ou Adicionar a ou Substituir a a dose segunda
droga monoterapia
Resposta inadequada
Adicionar a segunda ou a terceira drogas
Associação de Agentes Anti-hipertensivos
As associações de drogas devem seguir um racional,
obedecendo-se a premissa de não associar drogas com
mecanismos de ação similares, à exceção da associação
de diuréticos tiazídicos e de alça com poupadores de
potássio.
Como norma, não é recomendado iniciar o tratamento com
associações fixas de drogas. Todas as associações entre as
diferentes classes de anti-hipertensivos são eficazes.
Entretanto, os diuréticos em doses baixas como segunda droga
têm sido universalmente utilizados com bons resultados
clínicos. Algumas associações fixas de drogas estão
disponíveis no mercado. Seu emprego após o insucesso da
monoterapia, desde que criterioso, pode ser útil por
simplificar o esquema posológico, reduzindo o número de
comprimidos administrados.
Para os casos de hipertensão resistente à dupla terapia,
pode-se prescrever terapia com três ou mais drogas. Nessa
situação, o uso de diuréticos é fundamental. Em casos mais
resistentes, a associação de minoxidil ao esquema
terapêutico tem-se mostrado útil.
Interação Medicamentosa
A possibilidade de interação medicamentosa merece
especial atenção nos casos de patologia crônica, como a
hipertensão arterial, para a qual está indicado tratamento
com medicamentos de uso contínuo e, muitas vezes,
associações de anti-hipertensivos. Além disso, com
freqüência o paciente hipertenso necessita também de outros
medicamentos de uso contínuo, para tratamento de patologias
associadas e/ou complicações do próprio quadro
hipertensivo. Dessa maneira, é importante que o médico
conheça as principais interações entre anti-hipertensivos e
medicamentos de uso contínuo que poderão vir a ser
prescritos para o paciente hipertenso. É importante salientar
que a preocupação da classe médica e dos órgãos
governamentais que gerenciam a saúde pública com o
conhecimento da interação entre medicamentos é
relativamente recente. Assim, para os anti-hipertensivos
lançados mais recentemente essa possibilidade tem sido
avaliada de forma sistemática, o que nem sempre ocorre com os
medicamentos mais antigos. A Tabela VII apresenta, de forma
sintética, as principais interações medicamentosas dos
anti-hipertensivos disponíveis no mercado brasileiro.
Tabela VII. Anti-hipertensivos: interações
medicamentosas.
Anti-hipertensivo |
Fármacos |
Efeitos |
|
|
|
Diuréticos |
|
|
Tiazídicos e de alça
digitálica |
Digitálicos |
Predispõem à intoxicaçao
por hipopotassemia |
|
|
|
|
Anti-inflamatórios |
Antagonizam o efeito
diurético esteróides e não-esteróides |
|
|
|
|
Hipoglicemiantes orais |
Efeito diminuído pelos
tiazídicos |
|
|
|
|
Lítio |
Aumentam os níveis
séricos do lítio |
|
|
|
Poupadores de potássio |
Suplementos de potássio e
inibidores da ECA |
Hiperpotassernia |
|
|
|
Inibidores adrenérgicos |
|
|
Ação central |
Antidepressivos
tricíclicos |
Reduzem o efeito anti- hipertensivo
|
Betabloqueadores |
Insulina e hipoglicemiantes
orais |
Mascaram sinais de
hipoglicemia bloqueiam a mobilização de glicose |
|
|
|
|
|
|
|
Amiodarona, quinidina |
Bradicardia |
|
Cimetidina |
Reduz a depuração
hepática de propranolol e metoprolol |
|
|
|
|
Cocaína |
Potencializam os efeitos da cocaína
|
|
|
|
|
Vasoconstritores nasais |
Facilita o aumento da pressão pelos
vasoconstritores nasais
|
|
|
|
|
|
|
|
Diltiazem, verapamil e
sinusal e mibefradil |
Bradicardia, depressão atrioventricular. Aumento
dos níveis de metoprolol pelo mibefradil
|
|
|
|
|
Dipiridamol |
Bradicardia |
|
|
|
Alfabloqueadores |
Anti-inflamatórios
esteróides e não esteróides |
Antagonizam o efeito
hipotensor |
|
|
|
|
Diltiazem, verapamil, |
Hipotensão |
|
betabloqueadores e
inibidores |
|
|
adrenérgicos centrais |
|
Tabela VII. Anti-hipertensivos: interações
medicamentosas.
(continuação)
Anti-hipertensivo |
Fármacos |
Efeitos |
Inibidores da ECA |
Suplementos e diuréticos
poupadores de potássio |
Hiperpotassernia |
|
|
|
|
Ciclosporina |
Aumentam os níveis de
ciclosporina |
|
|
|
|
Antinfiamatorios
esteróides |
Antagonizam o efeito
hipotensor e não-esteróides |
|
|
|
|
Lítio |
Diminuem a depuração do
lítio |
|
Antiácidos |
Reduzem a
biodisponibilidade do captopril |
|
|
|
Antagonistas dos canais de
cálcio |
Digoxina |
Verapamil e diltiazern
aumentam os níveis de digoxina |
|
|
|
|
Terfenadina e astemizol |
Aumento de toxicidade das
duas drogas com mibefradil |
|
|
|
|
Bloqueadores de H2 |
Aumentam os níveis dos
antagonistas dos canais de cálcio, à exceção de
mibefradil |
|
|
|
|
Sinvastatina e lovastatina |
Toxicidade das duas
estatinas aumentadas pelo mibefradil |
|
|
|
|
|
|
|
Ciclosporina |
Aumentam o nível de
ciclosporina, à exceção de amlodipina e felodipina |
|
|
|
|
Teofilina, prazosina |
Níveis aumentados com
verapamil |
|
|
|
|
Moxonidina |
Hipotensão |
|
|
|
Antagonistas do receptor da
angiotensina II* |
|
|
|
Moxonidina |
losartan |
* Há poucos estudos
disponíveis para a avaliação de interações
medicwnentosas |
* Há poucos estudos disponíveis para a avaliação de
interações medicamentosas.
Crise Hipertensiva
A crise hipertensiva constitui situação clínica na
qual ocorre brusca elevação dos níveis da pressão,
acompanhada de sinais e sintomas, tais como cefaléia,
alterações visuais recentes e vasoespasmo ao exame de fundo
de olho. O encontro de níveis tensionais elevados
acompanhados de sintomas requer adequada avaliação clínica,
que inclui exame físico detalhado e fundoscopia.
É importante ressaltar que é comum a existência de
situações de estresse psicológico agudo associadas à
presença de níveis de pressão elevados, mas que não
caracterizam crise hipertensiva. Nessa situação,
recomenda-se o tratamento agudo do estresse psicológico. A
hipertensão arterial deverá ser tratada em ambulatório.
A crise hipertensiva é dividida em urgência e emergência
hipertensivas. Nas urgências hipertensivas, os aumentos da
pressão arterial, por mais elevados que sejam, não estão
associados a quadros clínicos agudos, como obnubilação,
vômitos, dispnéia, etc., e, portanto, não apresentam risco
imediato de vida ou de dano agudo a órgãos-alvo (como, por
exemplo, hipertensão acelerada e hipertensão
perioperatória). Nessa situação, o controle da pressão
arterial deve ser feito em até 24 horas. Inicialmente, a
pressão arterial deve ser monitorizada por 30 minutos. Caso
permaneça nos mesmos níveis, preconiza-se a administração,
por via oral, de um dos seguintes medicamentos: diurético de
alça, betabloqueador, inibidor da ECA, ou antagonista dos
canais de cálcio. Embora a administração sublingual de
nifedipina de ação rápida tenha sido amplamente utilizada
para esse fim, foram descritos efeitos colaterais graves com
esse uso. A dificuldade de controlar o ritmo ou o grau de
redução da pressão arterial e a existência de alternativas
eficazes e mais bem toleradas torna o uso desse agente
(nifedipina de curta duração de ação) não recomendável
nessa situação.
Nas emergências hipertensivas, a crise é acompanhada de
sinais que indicam lesões em órgãos-alvo em progressão,
tais como encefalopatia hipertensiva, acidente vascular
encefálico, edema agudo de pulmão, infarto do miocárdio e
evidências de hipertensão maligna ou de dissecção aguda da
aorta. Nesses casos, há risco iminente de vida ou de lesão
orgânica irreversível, e os pacientes devem ser
hospitalizados e submetidos a tratamento com vasodilatadores
de uso endovenoso, tais como nitroprussiato de sódio ou
hidralazina. Depois de obtida a redução imediata dos níveis
de pressão, deve-se iniciar a terapia anti-hipertensiva de
manutenção e interromper a medicação parenteral.
A hidralazina tem contra-indicação nos casos de
cardiopatia isquêmica ou infarto do miocárdio e de
dissecção aguda de aorta, por induzir ativação simpática
(com taquicardia e aumento da pressão de pulso). Na fase
aguda do acidente vascular encefálico, a redução dos
níveis tensionais deve ser gradativa e cuidadosa, evitando-se
reduções bruscas e excessivas. Preconiza-se que, nas
primeiras 24 horas a 48 horas, os níveis tensionais
diastólicos sejam mantidos ao redor de 100 mmHg. Após esse
período, de forma cuidadosa e progressiva, pode-se reduzir os
níveis tensionais para valores dentro da faixa de
normalidade.
Para as demais situações, nas quais os níveis
tensionais, embora bastante elevados, não se acompanham de
sintomas ou deterioração de órgãos-alvo, não
caracterizando, portanto, situações de urgência ou
emergência hipertensivas, está indicado o tratamento
ambulatorial.
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