Protocolos para realização do exame 22
Para realização da MAPA recomenda-se: a)
escolha de um dia representativo das atividades habituais do
paciente; b) manguito adequado colocado em braço não
dominante; c) aparelho programado para leituras a intervalos de
10 a 15min para o período de vigília e 20 a 30min para o período
de sono (tab. II); d) solicitar ao paciente que elabore durante
o período de exame um relatório de suas principais atividades,
contendo sintomas eventualmente ocorridos e os respectivos horários,
momentos em que adormeceu e despertou, tipos de medicamentos
utilizados, dosagens, e horários em que os utilizou. (vide
modelo de diário e orientações indispensáveis ao paciente)
(fig. 4 e 5); e) aferição de PA por meio de esfigmomanometria
convencional previamente a instalação do equipamento para
comparação de valores obtidos e aferição do monitor; f)
realização de pelo menos duas medidas manuais, assegurando-se
assim o adequado funcionamento do aparelho.
Tipos de equipamentos e métodos utilizados
Para a realização da MAPA podemos utilizar as seguintes
formas e técnicas: 1) medidas diretas (intra-arteriais); 2)
medidas indiretas: a) contínuas; b) intermitentes; b1) oscilométrico;
b2) auscultatório; b3) outros.
Por motivos óbvios as técnicas não
invasivas são as mais comumente utilizadas na prática clínica.
Os métodos de obtenção das medidas de PA
através da MAPA podem ser basicamente auscultatório, oscilométrico
ou a associação de ambos. Há vantagens e desvantagens na
utilização deles, não se podendo estabelecer com clareza e
segurança qual tem o melhor desempenho. Sabe-se, por exemplo
que, com relação a técnica auscultatória, pode-se ter influências
indesejáveis de ruídos, enquanto que, para a oscilométrica,
tremores e vibrações externas.
As atividades físicas durante o tempo de
medida da PA, por qualquer um dos dois métodos, constituem-se
em importante limitação, devendo-se recomendar adequado
posicionamento e repouso do membro que suporta o manguito
durante o momento da leitura da pressão.
Menos utilizada, mas disponível em alguns
equipamentos, a fotopletsmografia, mede a pulsação arterial na
extremidade de um dedo por meio de um manguito específico. Este
método oferece uma estimação da PAS e PAD podendo sub ou
super estimá-las.
Alguns equipamentos podem realizar
simultaneamente registro de outros parâmetros, como avaliação
eletrocardiográfica.
Até o ano de 1995, 43 tipos diferentes de
monitores, fabricados por 31 empresas diversas estavam disponíveis
no mercado internacional para utilização 29, sendo
que, apenas 18 deles foram avaliados pelos critérios,
consensualmente aceitos, da Associação para Avanço dos
Equipamentos Médicos (AAMI) e Sociedade Britânica de Hipertensão
(BHS), sendo que dos avaliados apenas a metade (9 equipamentos)
foi validada para uso clínico por ambas as instituições,
cujas observações estão contidas nas tabelas III e IV. Os
equipamentos não constantes destas tabelas, por não terem sido
submetidos às validações dessas instituições, poderão
eventualmente ser adequados ao uso. Como se observa, são
referidos apenas àqueles validados para uso clínico, por ambas
as instituições.
Interpretação
Critérios de normalidade - Os critérios de
normalidade da PA casual (método convencional) são arbitrários
existindo, porém, dados epidemiológicos que correlacionam as
cifras tensionais medidas, por este método, com a mortalidade e
morbidade cardiovascular. Consideram-se normotensos os indivíduos
adultos que apresentam PA <140/90mmHg 30. Para a
MAPA, os critérios de normalidade são igualmente arbitrários
e ainda não estão bem definidos. Portanto, a MAPA não se
presta ao diagnóstico de HA, que deve ser um procedimento clínico,
baseado em detalhada anamnese e exame físico, mas sim, ao
estudo do comportamento tensional nas 24h. Os dados de medição
da PA pela MAPA, na sua maioria provenientes de estudos
transversais em diversas populações, fornecem atualmente subsídios
para uma melhor interpretação dos resultados 31,32.
Na maior parte da população existem evidências de que: a) as
médias da PA de 24h são menores do que às obtidas pelo método
casual e semelhantes àqueles obtidos por medidas domiciliares;
2) as médias de PA no período de vigília são superiores às
do período de sono; 3) as médias de PA no período de vigília
e sono são inferiores às obtidas pelo método convencional
(medida casual).
A PA é um parâmetro hemodinâmico que sofre
inúmeras influências, exibindo grande variação ao longo do
tempo. A MAPA veio permitir a obtenção de dados nas diversas
atividades diárias do indivíduo.
Na interpretação da MAPA, deve-se
considerar, os seguintes aspectos: 1) critérios de exclusão
manual de medidas; 2) qualidade do procedimento; 3) médias
pressóricas; 4) cargas pressóricas; 5) queda da PA durante o
sono; 6) variabilidade pressórica; 7) picos tensionais; 8)
hipotensão arterial; 9) diário.
1) Critérios de exclusão manual de medidas
- Devem ser excluídas da análise as medidas de PA que
apresentarem as características listadas na tabela V.
2) Qualidade do procedimento - Um exame
adequado para interpretação deve observar os seguintes
aspectos: a) duração mínima do exame - 21h; b) número mínimo
de medidas válidas - 3 medidas/hora na vigília e 2
medidas/hora durante o período de sono. Obs.: exames nos quais
ocorreram 20% ou mais de exclusões manuais e/ou automáticas de
medidas são, provavelmente, resultantes de inadequação técnica
referente ao aparelho ou inadequação comportamental do
paciente (falta de observância das instruções).
3) Médias pressóricas - As médias obtidas
deverão ser analisadas de acordo com os critérios
estabelecidos na tabela VI.
4) Cargas pressóricas - Carga pressórica é
definida como o percentual de leituras que supera determinados
limites. Os limites utilizados atualmente são 140/90mmHg para
as medidas realizadas na vigília e 120/80mmHg para as medidas
realizadas durante o sono. A interpretação deste dado deve
seguir os limites apresentados na tabela VII 32.
5) Queda da PA durante o sono - Deve-se levar
em consideração as anotações contidas no diário do paciente
para definição dos horários de vigília e sono. Alguns
fatores como, por exemplo, a qualidade do sono, podem ser
responsáveis pela baixa reprodutibilidade deste dado.
Considera-se o indivíduo com queda fisiológica
da PA durante o sono aquele que apresentar uma redução de, no
mínimo, 10% da PAS e PAD e/ou descenso sistólico, descenso
diastólico, descenso sisto-diastólico observadas entre vigília
e sono 33.
6) Variabilidade pressórica - A
variabilidade da PA é mal estimada pelos desvios-padrão
obtidos pela MAPA. Não existe, até o momento, um valor numérico
que defina o limite normal. Dados obtidos por monitorização
contínua intra-arterial da PA sugerem haver uma associação
positiva entre o desvio-padrão da PA e a presença e gravidade
de lesões em órgão-alvo.
7) Picos tensionais - Pico tensional pode ser
definido como duas ou mais medidas consecutivas exageradamente
elevadas em relação ao período precedente. Picos tensionais
podem estar relacionados com hipertensão arterial primária ou
secundária.
Medidas isoladas muito elevadas se devem, na
maioria das vezes, a artefatos técnicos.
8) Hipotensão - Episódios sintomáticos de
diminuição da PA podem ser importantes, especialmente nas
seguintes situações: ação medicamentosa, síncope, hipotensão
postural, disautonomia e diabetes mellitus entre outras.
Medidas isoladas assintomáticas de diminuição
acentuada da PA também podem ser decorrentes de artefatos técnicos.
9) Diário - Para melhor interpretação dos
dados, o diário deve conter, no mínimo, indicações sobre a
qualidade e horários de sono, atividades durante a vigília
(trabalho, refeições, casa, lazer) e horários de tomadas das
medicações (veja sugestão de modelo de diário no item
protocolos).
Obs.: os dados de freqüência cardíaca e de
pressão de pulso existentes nas listagens emitidas pelos
diversos aparelhos não têm, até o momento, critérios de
interpretação definidos.
Emissão de relatório - Os valores de PA
obtidos pela MAPA devem ser interpretados de acordo com os critérios
mencionados. Deverão ser destacados em relatório os seguintes
pontos: 1) qualidade técnica do procedimento e referência ao
uso ou não de medicamentos; 2) análise das médias de PA
obtidas para os períodos de vigília e sono; 3) comentários
sobre as cargas pressóricas; 4) comentários sobre a presença
ou não da queda fisiológica da PA durante o sono e sobre a sua
qualidade; 5) comentários sobre eventuais picos tensionais e
períodos de hipotensão arterial; 6) correlação de sintomas
e/ ou atividades relatados no diário com a presença ou não de
alterações da PA; 7) conclusão: deve ser baseada nas tabelas
VI e VII na definição de exame provavelmente normal, limítrofe
ou provavelmente anormal; 8) o resultado obtido deve ser
interpretado à luz dos dados clínicos do paciente.
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