MAPA em situações especiais
Insuficiência renal crônica 32,33 -
HA é de ocorrência freqüente na insuficiência renal crônica,
acometendo até 70% dos pacientes que iniciam alguma terapia
dialítica.
O padrão de comportamento da PA na insuficiência
renal crônica sob tratamento dialítico apresenta, além das
variações do ciclo vigília-sono, as variações de PA
impostas pelo ciclo da diálise. A ocorrência destes dois
ciclos pode ocasionar dificuldades para a avaliação das variações
de pressão nas 24h e, também, no diagnóstico e no tratamento
da HA nessa população. Assim, a MAPA no paciente hipertenso em
diálise é útil no período interdialítico para: a) conhecer
o tempo que o paciente leva para retornar aos níveis de PA pré-diálise;
2) avaliar o efeito de novos esquemas terapêuticos; 3)
identificar hipertensão na qual a suspensão da medicação no
período imediatamente antes da sessão de diálise deve ser
realizada para minimizar a incidência de hipotensão durante a
diálise.
Em pacientes renais crônicos, sob tratamento
conservador, pré-dialítico e hemodiálise ocorre diminuição
da queda da PA durante o sono, ao passo que a diálise
peritonial ambulatorial contínua (CAPD) não determina alteração
do padrão de comportamento de PA durante o sono, evidenciando
que estas alterações dependem do tipo de terapia dialítica.
Em pacientes submetidos a transplante renal
também se verifica redução da queda de pressão durante o
sono, provavelmente relacionada ao uso de ciclosporina, com
participação do sistema nervoso simpático.
Transplante cardíaco 35 - Os
pacientes submetidos ao transplante cardíaco apresentam valores
médios de PA de 24h (PAS e PAD) semelhantes aos observados em
pacientes hipertensos essenciais. Atribui-se a elevação da PA
aos efeitos das drogas imunossupressoras e de glicocorticóides.
Por outro lado, observa-se que a maioria dos transplantados não
apresenta queda durante o período de sono. Nesses pacientes a
MAPA tem uma indicação mais precisa, na medida em que um
melhor controle pressórico nas 24h, possa minimizar as complicações
cardíacas e renais, relacionadas a hipertensão e ao uso de
ciclosporina.
Crianças 36 - Não existem, até
o momento, critérios estabelecidos na criança de normalidade
para os índices obtidos com os registros de MAPA.
Em crianças normais, o valor de PAS e PAD de
PA casual mostra-se geralmente inferior às médias sistólica e
diastólica da vigília e superior às médias sistólica e
diastólica de sono, ao contrário do observado nos adultos. Por
outro lado, o descenso pressórico no sono assemelha-se ao
observado em adultos. Para avaliação das cargas pressóricas
sistólica e diastólica de vigília utiliza-se como limite
superior de normalidade o percentil 95% para sexo e idade da
curva de referência de PA casual e valores 10% mais baixos para
as pressões de sono.
Ainda não há critérios definidos para se
estabelecer o diagnóstico de HA na criança, utilizando-se os
parâmetros da MAPA.
Diabetes 37 - Em diversos estudos
epidemiológicos a prevalência de HA em diabéticos é maior
que a população geral. Em pacientes com diabetes insulino
dependente a HA pode ser um marcador da nefropatia diabética,
que ocorre em até 40% desta população.
Nos pacientes com diabetes insulino
dependente, a elevação da PA inicia-se em fases muito precoces
do desenvolvimento da doença renal. O aparecimento da
microalbuminúria persistente, que caracteriza a nefropatia diabética
incipiente, associa-se à perda do descenso da PA durante o
sono, enquanto os valores pressóricos da vigília podem não
diferir daqueles observados em diabético normoalbuminúricos.
Essa perda do descenso durante o sono nesses pacientes não se
associa somente a nefropatia, mas também à maior prevalência
de retinopatia diabética.
Nos pacientes não dependentes de insulina, a
associação de hipertensão com nefropatia diabética não é tão
evidente e a perda do descenso durante o sono associa-se a
maiores valores do índice de massa ventricular esquerda e
alterações da função diastólica. Embora as razões desta
alteração não sejam totalmente conhecidas existem evidências
de que dependam de um comprometimento do sistema nervoso autônomo
pelo diabetes. Assim sendo, a MAPA pode auxiliar na detecção
de pacientes com maior risco de desenvolverem complicações do
diabetes.
A hipotensão postural afeta cerca de 10% da
população diabética e constitui a mais freqüente manifestação
clínica da neuropatia autonômica, envolvendo o sistema
cardiovascular. A curva de PA difere do padrão normal e lembra
a forma de uma tenda. Os níveis pressóricos pela manhã são
mais baixos e vão se elevando ao longo do dia, atingindo níveis
mais altos quando o paciente se deita. Valores baixos voltam a
ser vistos pela manhã e podem se reduzir ainda mais no momento
que o paciente se levanta.
Além desta alteração, uma grande
variabilidade da PA pode ser observada durante o dia, decorrente
da inabilidade do sistema nervoso simpático em manter a PA
durante os períodos pós-prandiais e durante as mudanças
posturais.
Em pacientes que fazem uso de insulina, a
MAPA pode ainda auxiliar na diferenciação entre episódios de
hipoglicemia e hipotensão postural. Enquanto na hipoglicemia a
PA tende a se elevar, na hipotensão postural, observa-se queda
dos níveis pressóricos no momento em que o paciente refere
sintomas, que se assemelham a uma crise hipoglicêmica.
Idosos 38 - O enrijecimento
arterial e a redução da eficácia dos mecanismos que regulam a
PA promovem no idoso aumentos da PAS e da sua variabilidade.
Assim, observam-se aumento da prevalência da HA, maior freqüência
da hipertensão do avental branco e hipotensão ortostática.
Conseqüentemente, há maior dificuldade na análise do
comportamento da PA nessa faixa populacional.
Os estudos disponíveis sugerem que em indivíduos
sadios o aumento da idade não modifica os valores médios da PA
bem como a diferença vigília-sono. A variabilidade pressórica,
porém, tende a se exacerbar. O idoso freqüentemente dorme
durante o dia, podendo justificar o encontro de quedas da PA
durante este período.
Nos idosos são comuns manifestações atípicas
de doenças, presença concomitante de múltiplas afecções e
uso simultâneo de vários fármacos. De fato, a MAPA pode
trazer subsídios clínicos valiosos diante da suspeita de
hipotensão ortostática e pós-prandial e na avaliação da síncope.
Da mesma forma, o método pode auxiliar na avaliação de idosos
hipertensos e normotensos, sob uso crônico de medicamentos que
afetam o comportamento da PA, como os antiinflamatórios não
hormonais, os corticoesteróides e os antidepressivos.
Gestantes 39 - Durante a gravidez,
a PA diminui devido a intensa vasodilatação sistêmica.
Comportamento que é observado tanto em gestantes normais quanto
naquelas com HA pré-existente. Essa redução da PA, detectável
no final do 1º trimestre, acentua-se até a metade da gravidez
(20 semanas), quando passa a ocorrer o retorno progressivo aos níveis
tensionais. Esta queda é estimada em cerca de 20mmHg na PAS e 8
a 10mmHg na PAD. Em decorrência deste perfil hemodinâmico
peculiar, os critérios de diagnóstico da hipertensão na
gravidez são também específicos e incluem aumento de pelo
menos 30mmHg na PAS e/ou 15mmHg na PAD, em relação à média
dos valores obtidos antes da 20ª semana. Conseqüentemente, níveis
de PA de 120/80mmHg podem ser anormais em mulheres que
apresentavam valores de 90/60mmHg no início da gestação.
Quando a PA prévia não for conhecida, valores de 140/90mmHg ou
mais são considerados anormais.
A MAPA confirma a diminuição da PA do 1º
para o 2º trimestre e a habitual recuperação no final da
gestação com preservação do padrão vigília-sono em todas
as fases da gestação.
Na pré-eclampsia pode ser observado padrão
normal, atenuação, abolição ou eventual inversão do padrão
de comportamento vigília-sono, sendo que as alterações mais
acentuadas do padrão associam-se freqüentemente à maior
gravidade.
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